Adriana voltou ao mar e sujou as mãos

Margem, o disco que completa a trilogia marítima de Adriana Calcanhotto, sucessor de Maritmo e Maré, é um exercício sobre a perda de “um mar que já não há”, sujo pelo lixo com que impunemente o atolam. O jogo entre palavras e música é certeiro e a audição é docemente viciante. Um mergulho que, não lavando o mar, lava a alma.

Foto
cortesia adriana calcanhoto

A capa não podia ser mais explícita. Adriana Calcanhotto fez-se fotografar dentro de água, completamente cercada de plásticos e detritos, e essa imagem é um manifesto visual, mudo: estamos a matar o mar com a nossa estupidez e a nossa indiferença. Mas quem daqui retirar a ideia de um disco “de protesto”, com canções indignadas, desengane-se. Margem, assim se chama o novo trabalho de Adriana, reúne nove canções que primam pela subtileza e pela coesão musical e poética, arrastando-nos docemente para o espelho dos nossos maus actos: “Uma onda pode vir do céu/ Imponderável como as nuvens/ E cair no dia feito um véu/ Ou a tampa de um ataúde”, canta ela, dando voz a António Cícero e José Miguel Wisnik. Ou, nas suas palavras, em Ogunté: “Crianças encalhadas na costa de Lesbos/ Pacotes de cruzeiros pelas ilhas gregas/ O plástico do mundo no peixe da ceia/ O que será que cantam as tuas baleias?” Terceiro disco de Adriana marcado pela temática do mar no espaço de 21 anos, enquadrados em três décadas, Margem sucede a Maritmo (1998) e Maré (2008). Já está nas plataformas digitais (com três videoclipes) e chega às lojas em formato físico no dia 7.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Comentar