Notre-Dame: uma parte da alma da Europa que nos deixa

Uma tragédia de todos os humanistas, de todos os europeus, de todos os humanos aos quais a natureza (ou Deus) concedeu o dom de se emocionarem com a arte e de se exaltarem com a História.

Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER
Fotogaleria
Reuters/REUTERS TV
Fotogaleria
Reuters/JULIE CARRIAT
Fotogaleria
Reuters/JULIE CARRIAT
Fotogaleria
Reuters/JULIE CARRIAT
Fotogaleria
Reuters/JULIE CARRIAT
Fotogaleria
Reuters/REUTERS TV
Fotogaleria
Reuters/CHARLES PLATIAU
Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER
Fotogaleria
Reuters/CHARLES PLATIAU
Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER
Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER
Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER
Fotogaleria
Reuters/Stringer .
Fotogaleria
Reuters/JULIE CARRIAT
Fotogaleria
Reuters/CHARLES PLATIAU
Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER
Fotogaleria
Reuters/SOCIAL MEDIA
Fotogaleria
Reuters/CHARLES PLATIAU
Fotogaleria
Reuters/PHILIPPE WOJAZER
Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER
Fotogaleria
Reuters/PHILIPPE WOJAZER
Fotogaleria
Reuters/Charles Platiau
Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER
Fotogaleria
Reuters/BENOIT TESSIER

Esta segunda-feira foi dia do Pacto de Estabilidade, dia de anúncios de greves, dia em que se anuncia um plano de paz americano para o Médio Oriente, o dia em que se revelou a retirada do mandato a um autarca de uma cidade portuguesa. Mas todas estas coisas importantes para a nossa vida e para o nosso futuro sucumbem perante a dor pela perda de uma parte substancial do nosso passado comum. O incêndio na catedral de Notre-Dame é um dos maiores desastres da cultura europeia, e mundial, em muitas décadas.

Num final de tarde trágico, ardeu uma obra gloriosa do gótico, uma imagem icónica da Europa do tempo das catedrais, o monumento mais visitado do continente, a memória da luz de uma civilização que se começava a reerguer após a longa noite desde o final do Império Romano para transformar a Europa na pátria da razão, da tolerância iluminista, das constituições, dos direitos humanos e do progresso – uma herança que nem os totalitarismos nem as guerras mais sanguinárias da História conseguem apagar.

O incêndio num monumento com esta importância cultural e simbólica não pode deixar de representar mais uma manifestação de infortúnio e descrença num país e num continente assolados por problemas novos e ameaças velhas. Como que num terrível sinal dos tempos, a Europa perde nestes dias ansiosos um dos mais valiosos exemplos da sua grandeza e da sua memória.

Sem dúvida que o provável carácter incidental da destruição pode e deve alimentar o discurso do relativismo, da incontornável imprevisibilidade dos desastres, da impossibilidade de os humanos serem donos do destino das suas criações. Mas há-de haver também lugar para o discurso legítimo sobre a imprevidência, sobre os custos do desinvestimento dos estados na protecção do seu património (e dos seus cidadãos). Uma tragédia desta dimensão torna mais cruas as feridas que dão fulgor aos Coletes Amarelos, a Le Pen e à crescente incerteza que leva os europeus a duvidarem de si mesmos e do seu destino.

Não é ainda tempo para se perguntar por responsabilidades. É apenas tempo de sofrer como nossa a tragédia de um lugar que todos conhecemos por experiência pessoal, por termos lido Victor Hugo ou apenas por sabermos à distância da sua majestade e grandeza. O que aconteceu esta segunda-feira em Paris é uma tragédia de todos os humanistas, de todos os europeus, de todos os humanos aos quais a natureza (ou Deus) concedeu o dom de se emocionarem com a arte e de se exaltarem com a História. Mesmo que nem tudo esteja perdido em Paris, esta segunda-feira foi um dia horrível para a França, um dia trágico para a Europa.

Sugerir correcção
Ler 12 comentários