Reconhecer Guaidó: "banho de sangue", "seguidismo" ou "mais do que justo"?

Bloco de Esquerda defende eleições livres na Venezuela. "Nem Nicolás Maduro, nem Juan Guaidó". PCP condena a "nova operação golpista". CDS apoia posição do Governo.

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Coordenadora do BE falou aos jornalistas à margem das jornadas parlamentares LUSA/ESTELA SILVA

Nem Nicolás Maduro, nem Juan Guaidó. O BE defende eleições livres na Venezuela e não o reconhecimento de Guiadó como Presidente conforme anunciou o Governo português nesta segunda-feira de manhã, porque isso, avisou a coordenadora Catarina Martins, “pode resultar num banho de sangue”. Augusto Santos Silva justificou a posição do executivo português como um contributo para “superar o impasse político” e “assegurar transição pacífica”, mas não agradou aos parceiros da "geringonça". O PCP também já condenou o reconhecimento, "com o apoio do
PSD e CDS, ao 'presidente' fantoche nomeado pela Administração Trump para a Venezuela".

A atitude da União Europeia em reconhecer Guaidó como Presidente pode resultar num banho de sangue. O BE não acompanha nem Nicolás Maduro, nem Guaidó. Deve haver uma mediação internacional para eleições livres, que permitam uma solução escolhida pelo povo venezuelano, que evitem o banho de sangue”, disse a líder do Bloco aos jornalistas, à margem das jornadas parlamentares, que decorrem no distrito de Aveiro.

Antes, tinha lembrado que, “muito antes de qualquer outro partido em Portugal e, quando Nicolas Maduro era recebido e recebia visitas dos mais altos representantes do PSD, CDS e PS, já o BE alterava para a deriva autoritária de Nicolás Maduro e para os muitos problemas da Venezuela”: “Nessa altura, como estavam a fazer negócio, resolveram fechar os olhos. Agora, em nome do negócio também, há uma ingerência externa para ver quem é que vai ficar com o petróleo da Venezuela”, criticou a líder, considerando que “a posição internacional sobre a Venezuela tem sido hipócrita”.

Sobre o tema que está a marcar a actualidade, defendeu ainda não estar provado “que a posição da União Europeia esteja a ajudar a alguma coisa”: “Pelo contrário, tem servido para afirmar o problema dos inimigos externos e criar uma situação de maior conflito na Venezuela.”

Catarina Martins lançou duras críticas à “postura internacional” que acusou de querer “ficar com o petróleo, a qualquer custo, mesmo que haja, um banho de sangue na Venezuela”. Em vez de reconhecer Guaidó como Presidente, a União Europeia devia, disse, “fazer mediação para existirem eleições livres, para o povo venezuelano poder escolher”.

Sem rodeios, acrescentou: “Achamos lamentável que seja escolhido um caminho que há-de ser muito interessante para as petrolíferas da Europa ou dos EUA, mas que seguramente pode resultar num banho de sangue na Venezuela.”

E, sem poupar nas palavras, reiterou: “Nada disto tem sentido, tudo isto é irresponsável e perigoso. O que é preciso é fazer mediação internacional, para eleições livres, sem ingerência externa e sem pressões internas que limitem as oposições para que o povo venezuelano, esse sim, possa escolher o seu futuro e possa escolher em paz.”

Operação golpista

Na sequência da intervenção do ministro, o PCP reagiu em comunicado considerando  que a posição "de seguidismo" e "ingerência" do Governo português é de "extraordinária gravidade". "Desrespeitando a Constituição da República Portuguesa e ao arrepio dos interesses do país e do povo português, o Governo PS opta pelo apoio aberto à operação golpista contra a Venezuela, tornando-se assim co-responsável pela actual escalada de agressão levada a cabo pelos EUA, apoiada pela UE, e pelas suas graves e perigosas consequências para o povo venezuelano e a comunidade portuguesa que vive naquele país", lê-se no texto que os comunistas fizeram chegar às redacções. 

A posição do Governo é, contudo, registada "positivamente” pelo CDS-PP. Em comunicado, o partido liderado por Assunção Cristas reclamou ter sido "o primeiro" a pedir esse reconhecimento oficial. Os centristas reconhecem a “legitimidade democrática e constitucional de Juan Guaidó para organizar novas eleições livres e democráticas de forma a garantir a transição pacífica na Venezuela”.

"Nós registamos positivamente esta decisão do Governo português, como de resto pedimos e solicitámos desde o primeiro momento porque entendemos que não era possível ter eleições disputadas num ambiente de liberdade e de democracia com Nicolás Maduro à frente do país", disse depois Assunção Cristas, à margem da inauguração de um cartaz do partido para as eleições europeias, na Avenida da República, em Lisboa.

O presidente do PSD, Rui Rio, também se manifestou de acordo com o Governo português e com o pedido de eleições "verdadeiramente livres e verdadeiramente fiscalizadas".

"Desde o início que tenho dito que Portugal não pode ter uma atitude divorciada do que é a atitude da União Europeia. Não foi possível a União Europeia toda ela tomar posição, mas os principais países tomaram. Estou de acordo que Portugal esteja, em conjunto com esses países, a fazer as mesmas exigências em relação à Venezuela", afirmou.

Rui Rio alertou que Portugal tem de ter um cuidado especial, devido à grande comunidade portuguesa na Venezuela, mas considerou que o reconhecimento de Guaidó é "mais do que justo e mais do que correcto".

"A comunidade internacional tem de ajudar o povo venezuelano, que sozinho não consegue, reclamando eleições presidenciais verdadeiramente livres e verdadeiramente fiscalizadas e controladas pela comunidade internacional", disse.

Em comunicado, também a Comissão Instaladora Nacional do partido fundado pelo ex-líder do PSD Pedro Santana Lopes apoia a posição de defesa de "rápida convocação de eleições presidenciais livres e democráticas" na Venezuela.

"Tendo presente a importante comunidade portuguesa, a Aliança espera que o Governo português e a própria União Europeia saibam pautar a sua acção tendo em conta a segurança e as condições de vida da nossa comunidade na Venezuela", acrescenta o texto.

Numa nota, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa fez saber apenas "que tem seguido a evolução na Venezuela" e que "acompanha a decisão apresentada" por Augusto Santos Silva. com Lusa

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