Quatro detidos em confrontos entre polícia e manifestantes na Avenida da Liberdade

Distúrbios ocorreram num final de um protesto contra a actuação da PSP no Bairro da Jamaica, no Seixal.

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Um momento de um vídeo que circula nas redes sociais, captado na Avenida da Liberdade Twitter/joa15inho

Confrontos entre manifestantes e agentes da PSP, no centro de Lisboa, marcaram o final de um protesto espontâneo em frente ao Ministério da Administração Interna, convocado através das redes sociais, na sequência dos incidentes de domingo no Bairro da Jamaica, no Seixal. Pelo menos quatro pessoas foram detidas, segundo confirmou o comissário Tiago Garcia, do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa.

O protesto terá mobilizado cerca de duas centenas de pessoas, segundo noticia a Lusa. Os desacatos ocorreram mais tarde, na Avenida da Liberdade. A PSP afirma que efectuou disparos de balas de borracha em resposta ao arremesso de pedras, num momento em que estaria a tentar encaminhar para o passeio manifestantes que ocupavam a faixa de rodagem.

A PSP indica que há agentes com ferimentos "leves" e vários automóveis civis danificados pelo arremesso de pedras. 

"Tiros" e "gente a correr"

O realizador João Salaviza, que esteve na manifestação e acompanhou os manifestantes desde as 17h30, relata ao PÚBLICO que um grupo subiu a Avenida da Liberdade em direcção ao Marquês de Pombal “de forma completamente ordeira e pacífica”, gritando palavras de ordem contra a violência policial e o racismo.

“Havia imensa polícia e polícias armados de shotgun", conta. "A determinada altura, o trânsito estava parado e esses carros começaram a buzinar em solidariedade. Alguns manifestantes aproximaram-se dos carros para agradecer. Não percebei muito bem como, oiço tiros e vejo toda a gente a correr. A polícia começou a varrer todos os que tinha pela frente e a quem tivesse associado à manifestação, segundo critérios cromáticos (cor da pele), batia com cassetetes. Acho que a maioria conseguiu fugir", relata o cineasta premiado vencedor de um Urso de Ouro em Berlim e de uma Palma de Ouro em Cannes pelas curtas-metragens Rafa e Arena.

"Havia pessoas àquela hora que iam buscar os filhos à escola, a sair do trabalho, turistas a sair dos hotéis. A polícia transformou a Avenida da Liberdade numa espécie de guerra civil. Vi muita gente a dizer que tinha medo de estar perto dos polícias mas não dos manifestantes", afirma, acrescentando que viu muitas mulheres entre os manifestantes.

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Cerca das 20h ainda se concentravam no Rossio vários adolescentes e jovens por volta dos 20 anos, contestando não só a actuação das autoridades no Bairro da Jamaica como a forma como a polícia geriu a manifestação desta tarde em Lisboa. Entre os manifestantes, jovens negros e brancos, rapazes e raparigas.

Desacatos no Seixal

No domingo, um homem foi detido no Bairro da Jamaica na sequência de desacatos entre civis e agentes da polícia. Agentes da esquadra da Cruz de Pau estavam no local depois de terem sido chamados por volta das 7h30 devido a desacatos no bairro entre várias mulheres. A Direcção Nacional da PSP explicou, em comunicado, que quando os agentes tentavam “perceber as circunstâncias da ocorrência e na identificação dos indivíduos envolvidos”, alguns “indivíduos residentes naquele bairro arremessaram pedras em direcção do efectivo policial, tendo causado ferimentos na boca de um dos polícias”, que acabou por receber tratamento hospitalar.

A polícia acrescenta que o suspeito reagiu "de forma violenta à acção policial, assim como outros indivíduos do bairro, que tentaram, através do arremesso de vários objectos e de acções físicas agressivas, impedir que a polícia exercesse a sua autoridade e consumasse a detenção".

A família envolvida nos desacatos tem uma versão diferente e acusa os agentes de uso excessivo e injustificado de força. Diz que os agentes não procuraram perceber o que passava nem tentaram acalmar os ânimos. “A polícia entrou a abrir. Vinha para bater”, disse este domingo Vanusa Coxi, testemunha e familiar dos envolvidos. Esta segunda-feira, Vanusa acrescenta que cinco familiares – Hortencio, Flávio Coxi, de 33 anos, Gina Coxi, 25, Fernando Coxi, 63, e Julieta Joia, 52 – vão apresentar queixa no Ministério Público nos próximos dias contra os agentes.

Ministério Público investiga o caso

A procuradoria-geral distrital de Lisboa emitiu entretanto uma nota sobre “os acontecimentos deste fim-de-semana no Bairro da Jamaica”, explicando que deram origem a um inquérito, o qual é dirigido pelo Ministério Público do Seixal.

“No âmbito desse processo serão investigados todos os factos que cheguem ao conhecimento do Ministério Público, incluindo os relacionados com a actuação policial” no bairro.

E acrescenta: “Decorrem, neste momento, diligências de recolha de prova. Na sequência dos incidentes foi efectuada uma detenção, por resistência e coacção sobre funcionário. Este detido foi sujeito a primeiro interrogatório não judicial, tendo ficado com termo de identidade e residência.”

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