Caso anulado por falta de provas

Francisco Manso volta a filmar Germano Almeida, vinte anos depois do Senhor Napumoceno, mas o resultado é um picaresco atabalhoado que nunca explica ao que vem.

Excelente história desbaratada num banal mistério televisivo
Fotogaleria
Excelente história desbaratada num banal mistério televisivo
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria

Vinte anos depois de O Testamento do Senhor Napumoceno, Francisco Manso regressa à obra do Prémio Camões Germano Almeida para adaptar Os Dois Irmãos, história inspirada num fait-divers verídico ocorrido na década de 1970 na ilha de Santiago. Mais uma vez, o realizador de A Ilha dos Escravos, Assalto ao Santa Maria ou O Cônsul de Bordéus demonstra que as boas intenções, e os bons pontos de partida, não chegam: esta co-produção institucional com o governo cabo-verdiano, rodada no arquipélago, desbarata a sua excelente história sobre o peso da tradição e da honra num banalíssimo mistério televisivo com ares pontuais de sarau de clube recreativo (o cenário, uma sala de tribunal filmada indiferentemente, e o elenco cheio de tiques de representação não ajudam).

Emigrado em Lisboa, André regressa à sua aldeia chamado por uma carta do pai, para descobrir que a honra da família terá sido manchada pelo irmão mais novo e que lhe cabe a ele vingar a ofensa — da qual parecem não existir provas tangíveis para lá da palavra de um pai tirânico e inflexível. Mas o que aconteceu nunca se saberá. Contado em regime de flashbacks a partir da barra do tribunal improvisado onde o caso chegou a julgamento, Os Dois Irmãos quer falar de um homem apanhado entre dois mundos e forçado a uma escolha impossível, mas esbarra na incapacidade de transmitir tudo o que está em jogo. Levantam-se sistematicamente pistas e ideias (sobre justiça, tradição, dever, modernidade) que o filme não quer, ou não sabe, investigar, caindo rapidamente numa narrativa picaresca atabalhoada e filmada sem garra, para já não falar de frustrante: Os Dois Irmãos acaba abruptamente, sem explicar o que realmente aconteceu por trás do beco da casa do Furtado nem como é que isso mudou a aldeia. Não é má ideia deixar que seja o espectador a responder, mas para isso era conveniente que houvesse um esclarecimento dos factos, que, ao contrário do que o juiz diz, o filme não faz.

i-video
Sugerir correcção
Comentar