Montenegro pondera avançar para a liderança do PSD

Movimento para destituir direcção de Rui Rio está em marcha no partido. “Isto tem de mudar”, afirmou o ex-líder parlamentar do PSD no momento em que existe um movimento para recolher assinaturas para convocar um conselho nacional extraordinário.

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DRO DANIEL ROCHA

As declarações de Manuela Ferreira Leite sobre o PSD – antes um “pior resultado” do que um partido com o “rótulo de direita” – serviram de alavanca para Luís Montenegro dar um sinal ao partido. “Isto tem de mudar”, afirmou o ex-líder parlamentar do PSD no momento em que existe um movimento para recolher assinaturas para convocar um conselho nacional extraordinário com vista a destituir a direcção de Rui Rio. Ao que o PÚBLICO apurou, Luís Montenegro está a ponderar, escutando apelos e fazendo uma reflexão pessoal, a possibilidade de avançar como candidato à liderança do PSD, caso o cenário de demissão de Rio venha a tomar forma. 

O movimento, que partiu de várias distritais do PSD como noticiou o PÚBLICO esta terça-feira, está a tentar recolher assinaturas junto dos conselheiros nacionais para convocar uma reunião extraordinária com vista a discutir uma moção de censura contra a direcção. Os contactos já estão a ser feitos

A tensão voltou a subir no PSD, depois de a ex-líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, ter defendido que preferia ver o seu partido com um “pior resultado” do que ter o “rótulo de direita”. Luís Montenegro, que é um dos fortes candidatos à liderança do PSD, veio rebater esta visão que associa à linha política da actual direcção. “Quero dizer com toda a frontalidade: estarei sempre na linha de um PSD grande e ganhador”, disse, prometendo para breve uma intervenção. “Muito em breve falarei sobre e estado do PSD, falarei mesmo sobre o futuro do PSD porque entendo que este estado de coisas tem de acabar e isto tem de mudar: o PSD assim não se vai conseguir afirmar”, disse aos microfones da TSF, onde mantém um programa semanal com o líder da bancada do PS Carlos César.

As declarações de Luís Montenegro soaram com estrondo e muitos recordam os avisos deixados pelo ex-líder parlamentar no congresso de Fevereiro do ano passado. Depois de rejeitar avançar como candidato no ano passado, Montenegro disse que se a oportunidade voltasse não pediria “licença a ninguém”. Da tribuna do congresso e com Rui Rio na primeira fila, o ex-líder parlamentar assumiu que podia ser candidato no futuro: “Conhecem a minha determinação. Se for preciso estar cá, cá estarei.” 

Na sede do PSD, a posição do líder foi assumidamente a da recusa em comentar. Em declarações aos jornalistas, Rui Rio não quis falar sobre o assunto com o argumento de que não foi discutido na comissão política nacional, a decorrer na mesma altura. Perante pergunta sobre se ignorava as palavras de Luís Montenegro, o líder do PSD respondeu: “Uns ignoram, outros não. Eu não ouvi já me contaram”.

Mas, questionado sobre as afirmações de Ferreira Leite, o líder do PSD, acabou por dizer que se fosse verdade estaria preocupado mas que “o PSD não é pequeno”.

Mesmo respondendo com um sorriso sobre se teme uma moção de censura para o afastar, Rio já tinha feito distribuir aos jornalistas números de entradas e saídas de militantes em 2018: chegaram 5821 e desistiram 872. Dados que permitiram ao líder do PSD fazer uma “ligação indirecta” com a sua estratégia e assumir estar convencido de que a estratégia “não tem de mudar”. Uma posição que choca com as dos dirigentes que lançaram o movimento para destituir Rui Rio. A falta de oposição ao Governo e as sondagens fizeram disparar os alarmes entre os críticos do actual líder do PSD, um ano depois da sua eleição em que derrotou Pedro Santana Lopes. 

Caso o movimento para demitir a comissão política nacional tenha sucesso, os prazos para a realização de directas e novo congresso são apertados. Não não só por causa das eleições em si (as europeias são em Maio) mas por causa das listas. Os nomes dos candidatos às europeias têm de ser entregues até meados de Abril. Sobre europeias, o líder do PSD assegurou que só tratou do processo logístico e voltou a recusar adiantar quando vai anunciar o cabeça de lista. "Só agora" se irá preocupar com o "plano político" dessas eleições, disse, depois de questionado pelos jornalistas. A conferência de imprensa tinha sido convocada para anunciar a primeira convenção nacional do Conselho Estratégico Nacional, em Fevereiro, no Europarque, e para dar a conhecer a posição do PSD sobre o Plano de Investimentos em obras públicas do Governo. Rio mostrou-se disponível para um entendimento sobre a matéria mas "sem pressas" e recusou "limpar a fraca execução" do plano anterior em vigor. O líder do PSD não se quis comprometer com uma posição de voto sobre o documento no Parlamento, admitindo ter havido de manhã uma reunião entre sociais-democratas e o ministro do Planeamento Pedro Marques. 

A realização de um conselho nacional extraordinário para demitir o líder do PSD é inédita no partido. Entre os sociais-democratas há dúvidas sobre a eficácia deste método e há quem considere que seria mais fácil a convocação de um congresso extraordinário através da recolha de assinaturas entre os militantes. As duas hipóteses estiveram em cima da mesa, há alguns meses, entre alguns dos dirigentes distritais mas que acabaram por desistir.

A ideia foi retomada no início deste ano e agora está em marcha. Há quem defenda que um processo deste género só deveria ser desencadeado após as europeias. Outros receiam que, em caso de fracasso, a situação fortaleça a actual liderança. Até porque esta contestação está a ser promovida contra um líder que ainda não foi sujeito ao teste das urnas. Essa é a tese de Paulo Cunha, presidente da Câmara de Famalicão e líder da mesma concelhia do PSD, uma das maiores do partido. “O dr. Rui Rio ganhou as eleições [internas], teve mais votos e ganhou o direito de se submeter a eleições”, disse ao PÚBLICO Paulo Cunha, ressalvando que foi apoiante de Santana Lopes nas eleições para a liderança. O dirigente do distrito de Braga admite que, “porventura faria algumas coisas de maneira diferente” se fosse líder, mas defende que Rio “tem condições para ser candidato a primeiro-ministro” e diz esperar que venha a ser eleito para o cargo.

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