Movimento Europa e Liberdade: “Queremos reforçar os valores do centro”

Jorge Marrão é o presidente do Movimento Europa e Liberdade (MEL), que esta quinta e sexta-feira reúne um vasto conjunto de políticos, empresários e intelectuais.

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Jorge Marrão é o presidente do Movimento Europa e Liberdade Rui Gaudêncio

O MEL, Movimento Europa e Liberdade, andou pelas bocas do mundo na última semana por promover um encontro de vários antigos e actuais dirigentes partidários de centro-direita e de direita. Em entrevista ao PÚBLICO, o promotor, Jorge Marrão - gestor e responsável pela área do imobiliário da consultora Deloitte -, diz querer alertar os partidos para debates urgentes, mas não todos os partidos. Os “extremados”, em que inclui BE e PCP, ficam de fora. 

O que o levou a iniciar este movimento?
Fiz a reflexão com mais duas ou três pessoas e concluímos que seria o momento certo para nós, como sociedade civil, e os partidos moderados, do centro, percebermos que, com esta crise a nível mundial, é muito natural que os temas políticos se comecem a fragmentar. Temos uma realidade nova na Europa e é muito útil que a sociedade debata e que os partidos percebam que, mais tarde ou mais cedo, vamos ser influenciados por esses acontecimentos.

Como assim?
O debate político está muito centrado em discutir se as políticas são de esquerda, de centro ou de direita. Neste momento, tem de se pensar nas ideias nacionalistas versus europeístas ou globalistas.

Na convenção, há participantes do PS, PSD, CDS e Iniciativa Liberal. É o mais longe que admite ir? Não tem representantes de partidos mais à direita ou até de extrema-direita?
Não. Não podemos partidarizar todos os debates numa sociedade.

No entanto, os seus convidados são de partidos...
Também. É importante perceber por que convidámos políticos. Foi um debate interno. São os partidos que levam a democracia por diante e muitas vezes a sociedade civil põe-se numa posição crítica em relação aos partidos, quando é importante que eles se abram à sociedade. Uma das lições que retirámos foi que convidar políticos pode levar a conotações de que estamos mais à direita, mais à esquerda ou mais ao centro, quando o que estamos a dizer é que o debate neste momento que consideramos útil para a sociedade é um debate que se deve centrar nas questões europeias. E, depois, como é que vamos pacificamente eliminar o ruído da rua, dos descontentes, dos inconformados? Provavelmente isso é que vai afectar a sociedade, considerando os ventos que vêm de fora.

À partida excluíram da vossa iniciativa os partidos da esquerda. Não os considera democráticos?
Todos os partidos são democráticos, o que precisamos é de uma política coerente, estável, de estabilidade de políticas públicas e precisamos que haja uma comunhão de visões sobre duas coisas essenciais: a Europa e a liberdade. A visão europeísta é para nós muito importante 

O que significa “eliminar o ruído das ruas”?
As sociedades estão a fragmentar-se, começam a surgir movimentos populistas, nacionalistas, xenófobos que vão criar uma tensão nos sistemas políticos e temos de ajudar o sistema partidário democrático do centro a perceber que tem de encontrar soluções para estas pessoas. A partir do momento em que os sistemas políticos não respondem a estes problemas, o que estamos a originar? A criação de mais populismo, mais nacionalismo.

Considera os protestos o nosso populismo?
A resposta aos protestos é que pode ser populista, perigosa. Os protestos são legítimos. A resposta tem de ser dada num quadro partidário estável, coerente. 

Há dias disse que este movimento é “contra os partidos extremados que exercem poder aqui e lá fora”. Considera o BE e o PCP partidos extremados?
Sim. Se num parlamento os extremos tiverem mais força, as reformas que em geral afectam uma grande maioria da população vão ser difíceis de implementar, porque os partidos têm receio da punição eleitoral que podem vir a ter, pelo facto de proporem reformas que não são entendidas pela sociedade.

Olhando para os convidados que tem na convenção...
Temos 12 políticos para 43 pessoas. A comunicação social, pelo facto de os políticos estarem lá, está a dar mais atenção. 

Não sente que faltam franjas da sociedade ali representadas? Não faltam trabalhadores?
Esta é uma primeira convenção. São todos trabalhadores. Mas a formulação que quer fazer de sociedade civil é uma formulação que incorpora a ideia que tem de haver luta entre o capital e o trabalho...

Quando apela, no Facebook, “a todos que não se revejam num Governo apoiado por comunistas, trotskistas, extrema-esquerda e novos oportunistas da situação”, não está à partida a afunilar o debate?
Foi uma afirmação provocatória, para chamar a atenção para um tema, que é o da Europa e da liberdade, que é de clivagem e extremismos a crescerem. O que queremos é reforçar os valores do centro, o centro foi sempre a solução. Grande parte das decisões tem de ser por dois terços.

É adepto de um bloco central?
Não, sou adepto de todas as configurações partidárias que respondam e enfrentem os problemas da sociedade.

E esta solução não enfrentou?
A democracia tem de gerar governos estáveis e o BE e o PCP ajudaram a criar um Governo estável. Para a cidadania isso é fantástico. Mas a nossa questão não é governar e ocupar o poder, é exercer o poder e fazer reformas e aí temos mais dúvidas. Não há nenhuma linha orientadora política do MEL. É muito importante perceber que não há soluções milagrosas, não há soluções tecnocráticas perfeitas e não há soluções irrepreensíveis ideologicamente. O que há é necessidade de os políticos dialogarem.

Francisco Assis e Paulo Trigo Pereira desistiram de ir. Arrepende-se do que escreveu?
Temos de respeitar as decisões das pessoas que foram convidadas para um debate, que continua igual ao que era no início. Só que, quando o debate foi para a comunicação social, de repente as pessoas fizeram uma leitura de que estávamos a fazer um debate partidário ou de lideranças ou de ataques ao Governo. Não é nada disso. 

Mas tem muitos representantes dos críticos a Rui Rio...
Não me revejo nessa leitura.

Foi convidado?
Foi e disse que não. Insistimos porque queremos mesmo que se altere a forma como se faz debate político em Portugal. O movimento não tem interesse na competição eleitoral, não é nosso objectivo. Recusamos qualquer tentativa de instrumentalização do MEL para o campo eleitoral ou partidário. Os subscritores que quiserem fazer política, façam-na dentro dos próprios partidos, não podem usar o MEL para isso.

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