"Coletes amarelos": Marcelo tentou segurar camionistas

Na Presidência acredita-se que parte desta classe estará empenhada na manifestação "Vamos parar Portugal" marcada para sexta-feira. Organizadores anónimos pediram reunião em Belém, mas não receberam resposta.

Foto
Marcelo volta em Janeiro a embarcar num camião TIR LUSA/PAULO NOVAIS

O breve passeio de camião TIR que Marcelo Rebelo de Sousa fez na terça-feira, na zona da Mealhada, foi o aperitivo para a viagem Lisboa/Porto que prometeu fazer em Janeiro, para chamar a atenção para as condições de trabalho dos camionistas portugueses. Mas acima de tudo foi uma forma de tentar serenar os ânimos de uma classe que, há um mês, ameaçava replicar em Portugal os protestos dos "coletes amarelos" franceses, caso o Governo não desse resposta positiva às suas reivindicações. 

Atento a esta realidade, o Presidente da República preparava-se para fazer a viagem de camião na terça-feira, mas o funeral da enfermeira vítima da queda do helicóptero do INEM levou-o a adiar umas semanas. Ainda assim, almoçou na Mealhada com representantes do grupo “Motoristas do Asfalto” e andou alguns quilómetros no pesado de Fernando Frazão com câmaras de TV lá dentro. O camionista teve então oportunidade de elencar os principais problemas do sector: “Baixos ordenados, excessos de cargas horárias de trabalho, problemas de cargas e descargas… e muita solidão na estrada”.

Nas redes sociais dos grupos de camionistas, as fotografias e vídeos de Marcelo no lugar de pendura na cabine do camião mereceram centenas de comentários de todo o género. Alguns com cartazes sobre a paralisação, apelos à mobilização e mapas dos locais previstos para agrupamentos. Mas a maioria de reconhecimento ao Presidente da República pelo gesto.

Em Belém, existia a percepção de que os camionistas seriam um peça-chave da manifestação dos coletes amarelos portugueses, que há muito tempo ameaçavam cortar o trânsito em vias fundamentais do país e o encontro de terça-feira visava tentar esvaziar esse balão. No almoço confirmou que os coletes amarelos tinham contactado os camionistas para aderirem ao protesto, mas não saiu de lá com qualquer garantia sobre a adesão, ou não, de uma parte desta classe.

No sector, o descontentamento continua a crescer. A paralisação de Maio não deu os frutos esperados e ainda há um mês o presidente da Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas (ANTP) admitiu, em declarações à TSF, que seguir o exemplo dos protestos dos coletes amarelos em França era uma das opções em cima da mesa.

“Dependendo das respostas, temos muitos empresários revoltados que querem fazer algumas manifestações para o bem do sector”, disse Márcio Lopes àquela rádio, antes de uma reunião no Ministério do Planeamento e das Infraestruturas a 19 de Novembro, acrescentando que “provavelmente será este o princípio de que algo vai acontecer”. “Da maneira como os empresários estão revoltados, não é fácil conseguir fazer com que as coisas ganhem caminhos normais”, acrescentou. Nos dias seguintes houve mais uma série de reuniões entre estruturas governamentais e associações do sector – que conta com 7500 empresas e mais de 300 mil trabalhadores -, mas apesar da calendarização então feita, ainda não obtiveram respostas satisfatórias.

Coletes amarelos sem sinal de Belém

A Belém também chegou, há semanas, um pedido de supostos organizadores dos coletes amarelos portugueses para serem recebidos, mas não receberam qualquer resposta, porque a Presidência não recebe anónimos nem quer dar qualquer sinal de cedência a este tipo de protestos inorgânicos.

Isso não significa que não haja uma atenção ao fenómeno, por um lado tentando segurar as franjas populistas, e por outro procurando perceber quem está por trás. A análise feita em Belém à última versão do caderno reivindicativo dos coletes amarelos aponta para a existência de uma mistura da esquerda radical com a direita radical: por um lado, reivindica-se o aumento do salário mínimo para 700 euros e das pensões mínimas para 500, por outro há exigências políticas típicas da direita, como a redução do número de deputados para metade.

À saída do almoço com os camionistas, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se convicto de que as manifestações de sexta-feira em Portugal vão ser pacíficas: “Uma coisa é a manifestação pacífica, que é timbre de Portugal, outra coisa é a violência a que assistimos noutros países”, disse. Uma posição que contrasta com a preocupação manifestada pelo Governo, que está em estado de alerta com os protestos anunciados. Na PSP, foram suspensas todas as folgas e créditos horários para garantir que o efectivo de 20 mil agentes estará preparado para o que for necessário.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários