O que fazer com esta Teoria?

A Teoria do Big Bang chega à sua temporada final, mas parece marcar passo sem grande inspiração.

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Do que ninguém duvida é que a série criou pelo menos um “boneco” para as calendas na figura de Sheldon Cooper, o físico teórico com um IQ de 187 e zero aptidões sociais DR

Não são muitas as séries de comédia que dividam tanto como A Teoria do Big Bang. Êxito de audiências desde a sua estreia em 2007 na cadeia CBS, as desventuras dos quatro cientistas nerds e da vizinha aspirante a actriz foram uma criação de Chuck Lorre, o produtor por trás de Cybill, Dharma & Greg ou Dois Homens e Meio; para uns, A Teoria do Big Bang é tudo o que há de pior no mundo das sitcoms tradicionais, para outros é um clássico do género (e pode até ser as duas coisas ao mesmo tempo!). Mas a grande virtude da Teoria sempre foi o modo natural como integrou a cultura popular nerd/geek, de Star Trek à Guerra dos Tronos, de jogos de tabuleiro como Masmorras & Dragões a consolas como a Nintendo Wii, na estrutura tradicional da sitcom, com maior ou menor felicidade. Também por isso, o êxito brutal da série, a comédia mais vista da televisão americana durante a maior parte da sua existência, mostra o quão consensual esta mistura de piscadelas de olho geek com humor caseirinho de sitcom passou a ser.

Do que ninguém duvida é que a série criou pelo menos um “boneco” para as calendas na figura de Sheldon Cooper, o físico teórico com um IQ de 187 e zero aptidões sociais, e um encontro raro entre personagem e actor, com Jim Parsons a dar muito mais do que vida a Sheldon. E repetiu a proeza com a introdução de duas personagens femininas – Bernadette (Melissa Rauch) com a sua vozinha de cartoon e o seu mau feitio, que se viria a casar com Howard, e sobretudo Amy Farrah Fowler (Mayim Bialik), um Sheldon no feminino.

A Teoria do Big Bang chega agora ao último ano de episódios – em Portugal já em exibição no AXN White (que repete regularmente episódios de temporadas anteriores, com os anos 1 a 9 disponíveis igualmente no serviço Netflix). Mesmo sabendo que é difícil manter o nível de uma série ao longo de tanto tempo – e ainda por cima de uma série de comédia – os sinais de cansaço da surpreendentemente estável equipa de argumentistas da Teoria já se vinham a sentir há um par de temporadas. Havia, no entanto, sempre momentos de génio a justificar o interesse (a tentativa de sedução com flamenco de Sheldon, a redescoberta do Professor Protão ou o jantar de acção de graças em casa de Howard vêm-nos à cabeça, para já não falar do inspiradíssimo casamento que terminou a 11.ª temporada).

Até agora, contudo, ainda não encontrámos essa redenção na meia-dúzia de episódios já exibidos da 12.ª e última temporada, que parecem dar razão aos muitos detractores da série. Seria de esperar que o showrunner Steven Molaro e o elenco mais bem pago da televisão americana apostassem em despedir-se com um big bang, ainda por cima quando o final já estava anunciado há algum tempo. Mas, até ver, esta temporada 12 parece estar a marcar passo até ao último episódio. Claro que nunca se perde tempo a ver Sheldon e Amy ou a inenarrável Bernadette, mas a graça parece estar ausente. Espera-se que seja um "bazinga" temporário e que as coisas melhorem em direcção ao fim – e, apesar de tudo, os antigos episódios continuam magníficos. É por eles, mais do que tudo, que A Teoria do Big Bang vai deixar saudades.

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