Católicos: 67,9% admitem eutanásia “dentro de certos limites”

Abertura contrasta com a posição oficial da Igreja Católica que rejeitou categoricamente a legalização da morte medicamente assistida.

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Entre os católicos da Grande Lisboa, 67,9% admitem a eutanásia "dentro de certos limites" Nelsón Garrido

Enquanto 68,7% dos muçulmanos e 62,9% dos evangélicos/protestantes se declaram terminantemente contra a eutanásia, entre os católicos a rejeição da morte medicamente assistida é visivelmente menos categórica: 67,9% dos católicos declararam aceitar a eutanásia “dentro de certos limites”.

Esta abertura contrasta fortemente com a posição oficial da Igreja Católica que, dias antes de a eutanásia ser discutida no Parlamento, subscreveu, juntamente com outras religiões, uma posição pública contra a eutanásia. Mas não surpreende Alfredo Teixeira, coordenador do estudo Religião e espaço público, que, profundo conhecedor do tecido católico português, está habituado a que muitos dos que se declaram católicos o façam por fenómenos de identificação cultural e social. “É-se católico porque sempre se foi católico, a família era católica, mas esta identificação não implica que se acompanhe com detalhe todos os aspectos normativos e dogmáticos da Igreja Católica”, explica.

Para o antropólogo, estes dados dão conta “de uma certa aceitação na sociedade portuguesa da possibilidade de se pensar na [legalização da] eutanásia, dentro de certas condições".

Este afastamento do aspecto normativo da Igreja Católica “não é inesperado, porque já aconteceu no passado em relação a outras questões da bioética”, lembra o investigador, para sublinhar que os católicos preservam “uma ampla margem de construção da sua identidade no espaço religioso - neste caso muito relacionado com o seu sofrimento e com o sofrimento de familiares -, num distanciamento que “traz algumas dificuldades” à instituição católica”.

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