EUA e China ganham 90 dias para evitar guerra comercial

Entendimento entre Donald Trump e Xi Jinping determina que os Estados Unidos suspendam intenção de subir mais as taxas alfandegárias e que a China aumente o volume de compras que faz aos EUA.

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Xi Jinping e Donald Trump em Buenos Aires Reuters/KEVIN LAMARQUE

Poderá ser o primeiro passo para um entendimento completo ou apenas um breve intervalo num conflito comercial de consequências imprevisíveis, mas Donald Trump e Xi Jinping conseguiram, este sábado à noite em Buenos Aires, sair do seu esperado encontro com o melhor resultado possível na presente conjuntura: uma trégua que dá tempo às duas partes para negociar um acordo comercial, sem estarem perante a ameaça de novas taxas e respectivas represálias.

O jantar entre os dois presidentes, apesar de não fazer parte do programa oficial do G20, era um dos momentos mais esperados do encontro de líderes mundiais que decorreu este fim-de-semana em Buenos Aires.

Estados Unidos e China, os dois países com as maiores economias do planeta, têm estado envolvidos numa guerra comercial que tem assustado os mercados e que, a agravar-se, poderia ter consequências para todo o mundo. Os EUA aumentaram as taxas alfandegárias de importações provenientes da China no valor de 250 mil milhões de dólares. Primeiro, aplicaram uma taxa de 25% em 50 mil milhões de dólares de produtos e, depois, uma taxa de 10% em 200 mil milhões de dólares, agendando uma subida para 25% nestes produtos para o próximo dia 1 de Janeiro.

A China retaliou com subidas de taxas nos produtos norte-americanos, o que levou a que Donald Trump ameaçasse com a possibilidade de alargar as suas medidas a todos os produtos importados da China.

Este sábado, depois de horas intensas de negociações entre as delegações dos dois países, o jantar acabou por resultar numa pausa neste cenário de ataque e contra-ataque ao nível das taxas alfandegárias. Os EUA já não vão, no dia 1 de Janeiro, subir de 10% para 25% as taxas aplicadas a 200 mil milhões de dólares dos produtos chineses. Em contrapartida, a China comprometeu-se a aumentar o volume de compras de produtos agrícolas, industriais e energéticos norte-americanos, embora não tenham sido tornados públicos os montantes em causa nem o prazo em que tal deverá acontecer.

Enquanto decorre esta trégua, as duas partes vão sentar-se à mesa de negociações. E não deram a si próprias muito tempo para chegarem a um acordo definitivo que evite o regresso às subidas de taxas. EUA e China irão, nos próximos 90 dias, reunir as suas equipas com o objectivo de definir taxas alfandegárias estáveis (e preferencialmente mais baixas do que as actuais) e de aplicação de regras menos apertadas para os fluxos de investimento entre os dois países.

Contudo, para além do facto de terem chegado a uma trégua, não há sinais neste momento de avanços significativos entre os dois países em direcção a um entendimento final. E a Casa Branca deixou claro que, não havendo um acordo ao fim destes 90 dias de negociação, o agravamento das taxas alfandegárias para 25% irá mesmo concretizar-se.

Como é normal nestes casos, a forma como os dois lados descreveram o acordo foi bastante diferente. Os responsáveis norte-americanos destacaram sobretudo o compromisso chinês de realizar mais compras de produtos norte-americanos e assim reduzir o seu excedente comercial com os EUA. E Pequim preferiu salientar o facto de Washington ter aceite não subir mais a taxas a 1 de Janeiro, com o ministro dos Negócios Estrangeiros a descrever a promessa de mais compras por parte da China apenas como “uma expansão das importações de acordo com as necessidades do mercado doméstico e da população”, que irá “gradualmente aliviar o problema do desequilíbrio comercial”.

Nas breves declarações que fez aos jornalistas a seguir ao jantar, Donald Trump centrou-se na sua relação com o presidente chinês. “A relação é muito especial. Penso que esta vai ser a razão principal para que nós, provavelmente, consigamos alguma coisa boa para a China e boa para os Estados Unidos”, afirmou. Por seu lado, Xi Jinping, que na terça-feira chega a Portugal para uma visita oficial ao país, afirmou que “apenas a cooperação [entre os dois países] pode servir os objectivos da paz mundial e da prosperidade”.

Da reunião do G20 que tinha terminado algumas horas antes do jantar entre Trump e Xi Jinping tinha entretanto saído um comunicado em que, no que diz respeito ao comércio internacional, os líderes mundiais concordavam com a necessidade de proceder a uma reforma da Organização Mundial do Comércio, algo em que os Estados Unidos têm insistido por considerarem que esta instituição não está a ser capaz de fazer face às políticas proteccionistas de alguns países, como a China. Também em Buenos Aires, os líderes dos EUA, México e Canadá aproveitaram na sexta-feira para realizar a assinatura formal do novo acordo comercial entre os dois países, que tinha sido definido em Outubro e que substitui o NAFTA.

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