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A história de Lizzie Borden fez dela uma das assassinas mais famosas dos EUA. É a história que Gary William Macneill conta com uma certa subtileza que não deve ser desvalorizada.

Chloe Sevigny, refractária à empatia do espectador, em contraste com a fragilidade de Kristen Stewart: A Vingança de Lizzie Borden
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Chloe Sevigny, refractária à empatia do espectador, em contraste com a fragilidade de Kristen Stewart: A Vingança de Lizzie Borden
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A história de Lizzie Borden fez dela uma das assassinas mais famosas dos EUA – e uma “assassina política”, adoptada como ícone das lutas feministas do século XX, a tal ponto o seu gesto, violento, niilista, representou muito literalmente, e de acordo com a terminologia contemporânea, uma revolta contra o “patriarcado”. É a história que Gary William Macneill conta em A Vingança de Lizzie Borden, com uma certa subtileza que não deve ser desvalorizada.

Se é um filme que nos seus silêncios, no seu cuidado de composição, deixa várias vezes a dúvida sobre se está intencionalmente a retratar um mundo claustrofóbico (uma casa da “boa sociedade” da Nova Inglaterra de finais do século XIX) ou se isso é apenas o produto involuntário de uma mise en scène de uma rigidez quase escolar (há várias cenas bastante mortiças, o ritmo narrativo é irregular, etc), também conta com três atributos que é fácil elogia. Em primeiro lugar, a ausência de retórica. Não faz de panfleto nem faz de lição, as motivações de Lizzie não são moídas e servidas ao espectador como uma colherzinha de papa. Ajuda muito a isso (segundo aspecto),a presença de Chloe Sevigny no papel de Lizzie, sempre dura, sempre refractária à empatia do espectador (ou pelo menos, nunca a pedindo), e funcionando aliás muito bem no contraste com a fragilidade da personagem de Kristen Stewart, a criada tristonha e enfiadita que vem trabalhar para a casa dos Bordens (é também uma boa ideia de casting, pôr Kristen neste papel). Finalmente, um cuidado bastante curioso com a luz e a iluminação, da noite e do dia, do exterior e do interior – um dos primeiros diálogos mostra Lizzie a acusar alguém de ser “obcecada com a iluminação” e a graça é que o filme também o é, a desenhar os espaços da casa (e mesmo as figuras das personagens) de forma bastante diferente conforme a luz venha das velas e dos candeeiros nocturnos ou seja a luz natural que bate sobre os rostos dos actores filtrada pelas cortinas das janelas. Há aqui um “artesanato” com uma certa fineza, a merecer alguma atenção.

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