Sobre a noite passada: o fabuloso destino de Rick e do novo universo The Walking Dead no cinema

Contém spoilers. Uma das séries mais populares do mundo encontra um novo caminho na definição de franchise televisivo: The Walking Dead vai dar a origem a vários filmes e Andrew Lincoln continua o seu papel.

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Perante os acontecimentos do quinto episódio da actual temporada de The Walking Dead, em que o herói Rick Grimes se encontra com o seu destino, a revista Rolling Stone considera que chegou ao fim de uma era da televisão. Um dos últimos heróis imperfeitos e masculinos sai de cena anos depois de Breaking Bad ou Mad Men. Mas não se terá sim cimentado uma nova era? Uma em que o xerife passa o distintivo a uma mulher e em que as pequenas grandes séries são propriedades tão amplas que se tornam em filmes? 

Depois de duas morosas temporadas de luta, The Walking Dead está votada à reconstrução. “Construir vidas, não tirá-las”, dizia o protagonista Rick Grimes no terceiro episódio desta nona temporada. Porque no actual cenário “nós ou os mortos, agora todas as vidas contam”. Dois episódios depois, uma das histórias que mais tem prendido os espectadores por todo o mundo fazia uma espécie de movimento Do Céu Caiu uma Estrela com alucinações em que Rick Grimes visitava a vida de alguns daqueles que tocou, ou que morreram à sua volta. Jon Bernthal (Shane), Sonequa Martin-Green (Sasha) e Scott Wilson (Hershel) voltaram para o manter uma e outra vez, como sempre, a sobreviver.

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E se desde o Verão a equipa anunciava que esta seria a última temporada de Rick na série, o fim chegaria com um típico twist à la Walking Dead (nem sempre bem visto pelos espectadores) – um helicóptero que prenunciava outras e mais evoluídas comunidades de sobreviventes naquele mundo pós-apocalíptico leva o sobrevivente, que momentos antes parecia ter-se sacrificado fatalmente pela sua “família”. Deixa para trás a filha e num flash forward indicia-se um futuro com uma jovem líder loira.

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“Adoro esta personagem; adoro o mundo que habitamos [na série]. Por isso, porque é que não tentamos, potencialmente, continuar esta história de uma forma diferente e talvez continuar a história dele de forma a manter a nave-mãe?”, disse Andrew Lincoln sobre o futuro de The Walking Dead à revista The Hollywood Reporter. No domingo à noite, após a transmissão do episódio What Comes After, o canal AMC (o seu produtor original; em Portugal a série passa, nas madrugadas de segunda e à segunda à noite, na Fox) anunciou esse futuro: três telefilmes para o AMC, que poderão ir além da TV conforme encontrem novos parceiros de produção, para continuar as aventuras de Grimes.

Nas duas últimas temporadas, uma história de terror com zombies e um grupo de sobreviventes foi a série mais vista em Portugal. Nos EUA, na altura da sétima temporada, era a maior nos EUA, com mais de 20 milhões de pessoas a assistir a The Walking Dead, que desde então está em quebra de audiências mas não perde o gás corporativo. À laia de exemplo: se Twin Peaks, depois do seu cancelamento à segunda temporada, deu também origem a um filme (Fire Walk With Me, 1992) e se Buffy, A Caçadora de Vampiros começou como um filme para depois se tornar numa série de culto, e se ambas têm à sua volta um pequeno reino de derivados (comics, livros, coleccionáveis), é a primeira vez que a televisão por subscrição americana dá um passo deste género. Os canais generalistas americanos já testaram a fórmula com 24, quando fizeram o telefilme 24: Redemption.

“Agora estamos a trabalhar em três [filmes], mas há flexibilidade… nos próximos anos vamos fazer especiais, novas séries são uma verdadeira possibilidade, conteúdos digitais de alta-qualidade, e algum conteúdo cuja descrição é difícil. Vamos escavar no passado e ver velhas personagens. Vamos introduzir novas personagens e novas situações”, disse à The Hollywood Reporter o responsável pelos conteúdos The Walking Dead Scott M. Gimple.

Os filmes juntam-se assim ao franchise The Walking Dead: a série prequela Fear the Walking Dead, para onde já migrou um dos actores da série-mãe e cujo tempo já avançou, o programa de discussão Talking Dead, videojogos e os comics originais e até cruzeiros temáticos. Segundo o New York Times, estes filmes não terão relação com os comics onde nasceu, mas o seu autor Robert Kirkman está a trabalhar nas suas histórias com Gimple. A produção do primeiro dos filmes começa já no próximo ano e permite horários mais curtos para Lincoln, cujos motivos familiares levaram em parte à sua saída da série.

Os últimos meses foram uma espécie de despedida de Lincoln, que lamenta que os fãs não possam ter experienciado com surpresa total a sua saída – que afinal não é definitiva. Mas agora olha para os filmes: “Quis acabar de contar a história dele como a começámos: com uma sensibilidade cinematográfica numa escala maior e numa história mais contida”.

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A ideia dos filmes não está a ser unanimemente bem recebida pelos espectadores nas redes sociais. Temem em parte o desgaste de uma narrativa já muito distendida e cujas características distintivas – a caneta impiedosa dos argumentistas que pode vitimar qualquer herói inesperadamente, a violência como pano de fundo da construção de personagens e humanidade – têm vindo a ser exploradas até se virarem contra a própria série. Mas como se lê no site Vox, “como é da natureza deste drama interminável sobre seres intermináveis, ele tinha um twist final”.

Notícia corrigida às 12h36

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