Memorial do Convento fora dos currículos afasta escolas do Palácio de Mafra

Monumento está a ressentir-se do facto de o romance de José Saramago ter perdido o seu estatuto de obra de leitura obrigatória no currículo do ensino secundário há dois anos. Memorial do Convento foi o primeiro romace do Nobel português a garantir reconhecimento internacional.

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A biblioteca é uma das jóias do Palácio Nacional de Mafra Nuno Ferreira Santos

O Palácio Nacional de Mafra, cuja construção inspirou José Saramago a escrever Memorial do Convento, uma das suas obras mais celebradas, está a registar uma quebra nas visitas das escolas depois de o romance ter sido retirado dos currículos durante dois anos lectivos.

"Há uma quebra significativa nas visitas do público escolar pelo facto de o Memorial do Convento ter deixado de ser lido" no ensino secundário, disse à agência Lusa o director do palácio, Mário Pereira.
No ano lectivo de 2016/2017, o palácio registou mais de 32 mil alunos nas visitas guiadas alusivas à obra, número que decresceu para 5400, em 2017/2018.

A peça de teatro Memorial do Convento, adaptada do romance por Filomena Oliveira e Miguel Real, e encenada pela companhia Éter, foi vista por 30 mil alunos, em 2016/2017, enquanto no último ano lectivo foram apenas cinco mil, segundo dados disponibilizados à Lusa.

Obrigatória há vários anos, Memorial do Convento passou a ser uma das duas opções de leitura (com O Ano da Morte de Ricardo Reis ) para os alunos do 12.º ano estudarem José Saramago, de acordo com os Programas e Metas Curriculares de Português do Ensino Secundário, que entraram em vigor em 2015/2016.

Contudo, os programas notam que, nos anos lectivos de 2017/2018, a obra a estudar, obrigatoriamente, é O Ano da Morte de Ricardo Reis, excluindo assim Memorial do Convento.
Mas no documento orientador Aprendizagens Essenciais para o Ensino Secundário, que entrou este ano em vigor em substituição dos anteriores programas, as duas obras voltam a figurar como as duas opções de leitura no estudo de Saramago.

Contudo, como as alterações se reflectem apenas no início de cada ciclo, ou seja, no 10.º ano, no caso do ensino secundário, só em 2020/2021 os estudantes do 12.º ano poderão voltar a optar pelo Memorial do Convento.

"A nossa visita ajudava os alunos a melhor compreender a obra [e a despertá-los] para a leitura do livro", sublinhou Mário Pereira. O Palácio de Mafra espera agora compensar as quebras dos visitantes do Memorial do Convento com as visitas alusivas a O Ano da Morte de Ricardo Reis e com os turistas estrangeiros.

No primeiro semestre deste ano, o palácio recebeu cerca de 156 mil visitantes, dos quais mais de 26 mil foram alunos das escolas, do pré-escolar ao ensino universitário. No período homólogo de 2016, tinham sido 173 mil visitantes, mais de 35 mil dos quais público escolar. Durante todo o ano de 2017, 378 mil pessoas visitaram o Palácio de Mafra e, destas, 44.700 corresponderam a visitas escolares.

Memorial do Convento, que foi publicado pela primeira vez em 1982 e soma mais de 50 edições e traduções em mais de 20 línguas, contribuiu para a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, em 1998, ao tornar-se no primeiro romance do escritor conhecido internacionalmente.

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