A tarefa colossal de Haddad e a exposição de Bolsonaro. Que estratégias para a segunda volta?

Os dois candidatos à presidência começaram a reunir apoios e a afinar os planos de jogo para a campanha das próximas semanas.

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Bolsonaro e Haddad pensam nos próximos passos Reuters/Reuters Photographer

Depois de uma primeira volta de emoções fortes, o Brasil prepara-se para mais três semanas de campanha eleitoral, agora entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. As duas candidaturas já começaram a definir estratégias para o dia 28.

Haddad é quem tem a tarefa mais complicada, se não mesmo gigantesca. O candidato do Partido dos Trabalhadores (esquerda) luta contra a História – nunca nenhum candidato em desvantagem na primeira volta conseguiu vencer o voto decisivo desde a redemocratização. Em 20 dias, a campanha do Partido dos Trabalhadores tem que superar um fosso de mais de 17 milhões de votos.

A matemática obriga Haddad a “conquistar não só os votos da esquerda, mas também do centro, e votos de Bolsonaro”, diz ao PÚBLICO o analista do Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade de Campinas, Oswaldo do Amaral. E é na necessidade de atrair alguns dos mais de 49 milhões de eleitores do ex-capitão do Exército que reside o grande desafio de Haddad.

“Para isso não adianta insistir em questões levantadas na primeira volta, como a oposição à tortura ou a importância da ditadura”, diz à Folha de São Paulo a professora da Universidade de Brasília, Flávia Biroli. “Isso não afecta o eleitor de Bolsonaro.”

Para Oswaldo do Amaral, a chave está em “reverter votos dos eleitores mais pobres em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, e também do Nordeste”. Haddad apenas venceu nos estados do Nordeste, enquanto Bolsonaro foi o mais votado no Norte, Centro Oeste, Sul e Sudeste, as regiões mais desenvolvidas.

A primeira decisão de Haddad foi reminiscente da campanha para a primeira volta. Logo de manhã, o ex-autarca de São Paulo viajou para Curitiba para se encontrar com Lula da Silva, no edifício da Polícia Federal, onde está preso desde Abril, repetindo um ritual frequente nas últimas semanas.

A táctica de campanha do PT foi a de colar a imagem de Haddad à de Lula, o único político com uma popularidade que rivaliza com a de Bolsonaro. Mas a grande dúvida é se essa estratégia deve continuar nas próximas semanas, uma vez que o eleitorado que Haddad tem de conquistar rejeita o ex-Presidente. A professora da Universidade de São Paulo, Hermínia Almeida, defende que Haddad deve mesmo “deixar de ir para Curitiba”. “Um candidato a Presidente da República não pode ser visto como alguém que vai perguntar o que tem de fazer para um líder que está preso”, disse ao El País Brasil.

A imprensa brasileira sugere que o PT está em processo de discussão interna sobre o que fazer a partir de agora. A forma como o legado de Lula deve ser encarado daqui para a frente é um dos pontos de maior fricção, bem como o programa económico. Para assegurar o apoio do chamado “centrão”, Haddad terá de dar sinais de moderação neste campo.

“A minha sensação é que o PT, quando fez aquele programa, estava a preparar-se para perder as eleições para o [candidato do PSDB, Geraldo] Alckmin. E aí fizeram um programa para cerrar fileiras e juntar a militância, porque ele é inviável”, diz Hermínia Almeida.

Bolsonaro parte de uma posição muito mais confortável, mas num clima tão imprevisível como o que vive hoje o Brasil, ninguém está disposto a arriscar. “Ele tem que fazer uma campanha mais conservadora, evitar falar bobagem”, diz Amaral. A prioridade é absorver os votos de pequenas candidaturas de direita, como as de João Amoêdo, que conseguiu 2,5%, e de Álvaro Dias (0,8%), e evitar perdas entre os eleitores que já votaram nele.

Mas ao contrário do que aconteceu desde que sofreu um ataque em Juiz de Fora, Bolsonaro terá agora que se expor muito mais. O filho do candidato, Flávio Bolsonaro, disse que o pai deverá participar nos debates com Haddad, com o objectivo de reforçar o discurso anti-PT.

Entretanto, também se vão fazendo os habituais anúncios de apoios entre candidatos. Ciro Gomes, que no domingo ficou em terceiro com 12% dos votos, confirmou que vai apoiar Haddad, mas Alckmin e Marina Silva ainda não revelaram o que vão fazer. Bolsonaro conta com o apoio do candidato “tucano” a governador de São Paulo, João Doria.

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