Corte de vagas em Lisboa e Porto impediu razia no interior

Interior perdeu 2,3% dos colocados, mas a quebra foi inferior à registada na globalidade do concurso de acesso ao superior.

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Adriano Miranda

As instituições de ensino superior do interior do país receberam 9700 alunos nas duas primeiras fases do concurso nacional de acesso deste ano. Isto significa que, em relação ao ano passado, perderam 230 colocados. O cenário seria mais grave se o Governo não tivesse decidido reduzir em 5% as vagas das universidades e politécnicos de Lisboa e do Porto. É o que se conclui da análise das colocações no sector neste ano depois da 2.ª fase de acesso.

As instituições do interior e das ilhas tiveram uma quebra do número de colocados de 2,3% no final da 1.ª e 2.ª fases do concurso nacional. No conjunto das duas fases, a totalidade da rede pública de ensino superior perdeu 2,6% dos novos alunos, face a 2017. Ou seja, as instituições do interior perderam menos do que a generalidade do sistema.

Foram colocados 43.992 colocados na 1.ª fase do concurso de acesso, aos quais se juntaram mais 9500 na 2.ª fase, cujos resultados foram conhecidos esta semana.

Isto significa também que as instituições de ensino superior do interior se saíram pior na 2.ª fase do concurso nacional de acesso, uma vez que tinham concluído a 1.ª fase com um aumento de 0,7% no número de colocados. Por exemplo, o Instituto Politécnico de Bragança que na 1.ª fase era uma das instituições que mais crescia (com um incremento de 63 alunos), no final da 2.ª fase está entre as instituições com pior desempenho (menos 52 estudantes), de acordo com os dados agora tornados públicos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES).

O ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, classifica o resultado da decisão de cortar 5% das vagas das universidades de Lisboa e do Porto como “um grande sucesso”. “Se não tivéssemos tomado as medidas que tomámos de facilitar o aumento de vagas no interior e diminuir em Lisboa e no Porto é que teria sido particularmente negativo. Ao fim da 2.ª fase, temos mais de 400 estudantes colocados em instituições do interior”, afirmou o governante, em Bruxelas, após ter participado na reunião dos ministros da Ciência da União Europeia, em declarações reproduzidas pela agência Lusa.

As contas de Heitor incluem, porém, as universidades do Algarve e Aveiro entre as instituições do interior. A contabilidade do PÚBLICO, feita com base nos mesmos dados – que foram divulgados pelo MCTES esta sexta-feira – é diferente. Se forem levadas em conta apenas as instituições efectivamente situadas no interior e nas ilhas, o número de colocados no final das duas fases do concurso nacional de acesso sofreu uma quebra de 2,3%.

As restantes instituições de ensino superior fora de Lisboa e Porto – onde se incluem as universidades de Aveiro e do Minho, a Universidade de Coimbra ou o Instituto Politécnico de Coimbra – receberam mais 52 alunos do que no ano passado (um aumento de 0,3%).

No final das duas fases do concurso nacional de acesso, a instituição do interior com maiores ganhos foi o Instituto Politécnico de Tomar, que recebeu mais quase 9% de alunos do que há um ano.

Seguem-se a Universidade da Madeira (com um aumento de 8,5% no número de colocados) e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (mais 5,4%). Em sentido contrário, o politécnico da Guarda perdeu 20% dos colocados – entraram este ano 415 novos estudantes via concurso nacional de acesso. O Politécnico de Beja teve menos 9% e a Universidade do Açores menos 7,3%.

A decisão de cortar vagas nas instituições de Lisboa e Porto foi alvo de fortes críticas nos últimos meses, a mais recente das quais por parte do reitor da Universidade de Lisboa, Cruz Serra: "Não consigo compreender uma medida que impede que os alunos estudem nas melhores universidades."

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