Novas taxas agravam clima de guerra comercial entre EUA e China

Medidas anunciadas por Trump fazem com que metade das importações provenientes da China tenham taxas mais elevadas. Pequim já anunciou que irá retaliar.

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Xi Jinping e Donald Trump, no centro de uma guerra comercial Reuters/DAMIR SAGOLJ

Os EUA avançaram esta segunda-feira com o mais violento ataque até agora na guerra comercial com a China, ao anunciarem a imposição de taxas alfandegárias mais altas sobre 200 mil milhões de dólares de importações. Uma retaliação chinesa e novas medidas do lado norte-americano estão agora no horizonte, com uma escalada do conflito a parecer mais provável do que uma solução negociada.

“Durante meses, temos apelado à China que mude as práticas injustas e que garanta um tratamento justo e recíproco às empresas americanas. Temos sido muito claros sobre o tipo de mudanças que é necessário fazer e temos dado todas as oportunidades à China para nos tratar de forma mais justa, mas até agora a China não tem mostrado vontade de mudar as suas práticas”, afirmou Donald Trump, o Presidente norte-americano, no momento em que anunciou a nova medida.

Os EUA passaram a aplicar (com entrada em vigor a 24 de Setembro) uma taxa alfandegária de 10% sobre importações de bens chineses no valor de 200 mil milhões de dólares, que se juntam assim aos bens no valor de 50 mil milhões de dólares que já tinham no início deste ano sofrido um agravamento das taxas. A 1 de Janeiro de 2019, as taxas serão ainda agravadas de 10% para 25%. Deste modo, cerca de metade das importações norte-americanas provenientes da China vão estar agora sujeitas a taxas alfandegárias mais elevadas.

E este valor pode não ficar por aqui. Do lado da China, os dirigentes já tinham por diversas vezes deixado claro que, caso os EUA avançassem com novas taxas, iriam retaliar, com os seus próprios agravamentos de tributação das importações provenientes de empresas norte-americanas. E esta terça-feira, voltaram a confirmar essa intenção. "Para proteger os seus legítimos direitos e interesses e para proteger a ordem no comércio internacional livre, a China não tem outra opção que não seja retaliar simultaneamente", afirmou esta terça-feira o ministro chinês do Comércio. A China já tem preparada uma lista de importações provenientes dos EUA no valor de 60 mil milhões de dólares sobre as quais pode impor taxas alfandegárias mais elevadas.

Antecipando este cenário, Donald Trump já tinha dito o que irá fazer: aumentar “imediatamente” as taxas em mais 267 mil milhões de produtos “se a China tomar uma acção retaliatória contra os agricultores ou outras indústrias norte-americanas”.

No início deste mês, depois de concluído o período definido para analisar a imposição de novas taxas alfandegárias, elementos da administração Trump tinham deixado no ar a ideia de que o próximo passo poderia ser uma etapa de negociações e não mais taxas. Essas negociações seriam lideradas do lado norte-americano pelo secretário do Tesouro Steven Mnuchin e do lado chinês pelo vice-primeiro ministro Liu He. Porém, a opção acabou por ser a imposição imediata de taxas, ainda antes do início destas negociações, como forma de aumentar ainda mais a pressão sobre Pequim.

Esta estratégia deve-se também em parte à percepção de que a actual conjuntura económica nos dois países dá aos EUA uma vantagem. Enquanto a economia norte-americana está a apresentar um ritmo forte de crescimento com níveis de desemprego bastante baixos, a economia chinesa está numa fase de abrandamento, o que pressiona ainda mais Pequim a evitar novos efeitos negativos.

De qualquer forma, Trump fez questão de deixar uma porta aberta às negociações. “Espero que esta situação possa ser resolvida no final, por mim e pelo presidente Xi da China, por quem eu tenho grande respeito e afecto”, disse.

As primeiras taxas aplicadas pelos Estados Unidos contra a China tinham-se concentrado nas importações de produtos do sector tecnológico. Esta nova vaga abrange uma maior variedade de sectores, alguns deles bastante importantes para o sector exportador chinês. No entanto, também prejudicadas são, para além dos consumidores norte-americanos (que poderão assistir a uma subida de preços), as empresas norte-americanas que dependem dos preços baixos da China para produzirem os seus próprios bens. Numa resposta a essas preocupações, a Administração Trump retirou, depois de pedidos expressos de empresas norte-americanas, cerca de 300 produtos da lista que estava inicialmente prevista, algo que está a ser lido nos mercados accionistas como um sinal positivo no meio do clima de tensão que se vive no comércio internacional.

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