Aumentou em 2017 dinheiro enviado de Angola para Portugal

Não é ainda claro que emigração portuguesa voltou a aumentar ou se aumento de remessas é só o reflexo da resolução de pendências cambiais e de outros problemas.

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Em Angola residem perto de 100 mil portugueses REUTERS/Siphiwe Sibeko

Angola assumiu-se nos últimos anos como o destino mais escolhido pelos portugueses que migraram para fora da União Europeia, mas o fluxo abrandou desde que o país entrou em crise. Já voltou a acelerar? As remessas subiram.

Angola começou a chamar a atenção dos estudiosos da emigração quando, na primeira década deste século, as remessas de lá para cá superaram as de cá para lá. Iam, sobretudo, homens, qualificados ou altamente qualificados, a reboque da internacionalização das empresas portuguesas.

Tudo se intensificou quando Portugal foi apanhado pela crise da dívida. As remessas aumentaram mais de quatro vezes entre 2008 e 2013. De acordo com o Banco de Portugal, em 2013 alcançaram os 304 milhões. A partir dai, começaram a cair (247 milhões em 2014, 213 milhões em 2015, 205 milhões em 2016).

Em 2014, Angola afundou-se numa crise relacionada com a quebra abrupta das receitas da exportação de petróleo. A descida das remessas para Portugal explicar-se-ia com o abrandamento dos negócios, as dificuldades de transferência de dinheiro (devido a escassez de divisas) e a desvalorização da moeda angolana (o kwanza). Muitos dos que recebiam parte do salário em euros viram o pagamento atrasado meses ou anos.

Naqueles primeiros tempos, não havia registo de um recuo no fluxo migratório de Portugal para Angola. Somando os vistos de vários tipos emitidos pelos consulados de Angola no Porto e em Lisboa, notava-se com os portugueses continuaram a ir: 4651 em 2013, 5098 em 2014, 6715 em 2015.

Só em 2016 o que parecia expectável a especialistas como Rui Pena Pires, coordenador científico do Observatório da Emigração, se concretizou: caiu o número de vistos dos vários tipos (privilegiado, trabalho, trabalho por protocolo, fixação de residência e outros, como estudo e permanência temporária) para 3908.

O volume de inscrição nos serviços consulares portugueses em Angola acompanhava o movimento. Manteve uma tendência de crescimento entre 2008 (72 mil) e 2015 (134 mil) e em 2016 caiu a pique (97 mil).

Não era só menos gente que ia para Angola. Era mais gente que voltava, até porque a situação em Portugal começou a melhorar. Portugueses que tinham escolhido Angola e o Reino Unido (a braços com a saída da União Europeia) para fazer vida sobressaiam agora no movimento de regresso.

Com a economia angolana a dar alguns sinais de melhoria, as remessas voltaram a subir. No ano passado, somaram 245 milhões de euros. Em Julho de 2017, mês anterior ao das eleições presidenciais angolanas, chegaram aos 32 milhões, algo que não se via desde Dezembro de 2013 (34 milhões).

A emigração portuguesa voltou a aumentar ou isto é só o reflexo da resolução de pendências cambiais e de outros problemas? Impossível dizer, admite a socióloga Cláudia Pereira, que também faz parte do Observatório da Emigração. Só na próxima semana, quando houver dados sobre os vistos emitidos pelos consulados de Angola em 2017, se poderá saber.

No ano passado, o antigo Presidente da República decretou limitações à contratação de mão-de-obra estrangeira e a obrigatoriedade de pagar salários em kwanzas, mas voltou atrás. 

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