“A questão da migração é a mãe de todos os problemas políticos” alemães, diz Seehofer

Ministro do Interior afirma ainda que teria participado nas manifestações de Chemnitz. Seehofer, contrapôs o "número dois" do SPD, “é o avô de todos os problemas políticos do Governo”

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Horst Seehofer disse entender os motivos dos manifestantes após a morte de um alemão numa altercação com um iraquiano e um sírio ALEXANDER BECHER/EPA

O ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, disse esta quinta-feira que “a questão das migrações é a mãe de todos os problemas políticos nesta terra”, numa entrevista ao jornal Rheinischen Post. Pouco depois, a chanceler, Angela Merkel, respondia, na estação de televisão RTL: “Vejo as coisas de outro modo. A questão da migração põe-nos perante desafios.”

Parece quase uma repetição da discussão sobre a política alemã de refugiados e asilo entre o líder da CSU (União Social-Cristã) e a chanceler, da CDU (União Democrata-Cristã), dois partidos que têm um acordo único na polítia alemã (a CSU concorre apenas na Baviera, a CDU em todos os outros estados federados), e que levou a grandes discussões antes das eleições do ano passado e já depois da formação do Governo que tomou posse em Março. “Há três anos que ando a dizer isso”, declarou Seehofer na entrevista.

Na sua entrevista, Merkel diz que na resposta aos desafios da chegada de migrantes “há problemas”, mas também sucessos. No mês passado foram divulgados dados indicando que cada vez mais refugiados têm emprego na Alemanha e que há menos lugares vagos nos cursos de formação graças a requerentes de asilo (a Alemanha enfrenta um problema de falta de mão de obra em várias áreas, por isso haver mais pessoas na formação para certas profissões ‘técnicas’ ou de cuidados de saúde e a idosos, por exemplo, é uma boa notícia). 

Mas Seehofer preferiu sublinhar actos violentas de requerentes de asilo – as manifestações de Chemnitz foram contra a morte de um alemão (de origem cubana) numa altercação com dois requerentes de asilo, um iraquiano e um sírio, e alguns factores terão contribuído para uma mobilização da extrema-direita. A vítima pertencia à claque de um clube de futebol local onde são activos muitos neonazis (embora o morto fosse, na verdade, de esquerda), a polícia terá passado informação sobre a nacionalidade dos suspeitos, entretanto detidos, a um grupo neonazi, e ter-se-ão espalhado rumores errados sobre a origem da luta: que o morto teria tentado defender uma mulher que os estrangeiros queriam violar.

“Se não fosse ministro do Interior, também teria participado na manifestação, claro que não com os radicais”, disse Seehofer na entrevista. “Percebo a razão do protesto”.

Já Merkel preferiu sublinhar que nas manifestações “aconteceram coisas que não são aceitáveis”. Não referiu o quê em específico, mas no final de uma delas houve neonazis a perseguir violentamente pessoas que parecessem ser estrangeiras e algumas pessoas fizeram saudações nazis (proibidas pela lei alemã).

A frase de Seehofer foi criticada dentro e fora da coligação de Governo, que junta a União (CDU e CSU) e o Partido Social Democrata (SPD).

O líder da CSU “é o avô de todos os problemas políticos do Governo”, tweetou o número dois do SPD, Ralf Stegner. A revista Der Spiegel cita ainda reacções críticas do líder do Partido Liberal Democrata (FDP), Christian Lindner, que considera o pensamento de Seehofer "muito estreito" já que, "bem gerida", a imigração pode trazer vantagens a "um país envelhecido". Já dos Verdes, Konstantin Notz disse que as declarações de Seehofer mostram um défice em "conhecimento técnico e decência".

O único ponto em que os dois pareceram de acordo, nas duas entrevistas, foi que serão os serviços de informação interna a decidir se a AfD (Alternativa para a Alemanha, partido xenófobo) deve ser alvo de vigilância dos serviços de informação interna da Alemanha. A questão tem sido debatida pela participação de elementos do partido nas manifestações de Chemnitz.

“A AfD está a agitar os ânimos e isso tem de ser dito de modo claro”, disse Merkel, defendendo que ainda que veja algumas das afirmações do partido “de modo muito critico”, nomeadamente as que apelam a perseguições a jornalistas, quer lidar com o partido “de modo político”.

Seehofer disse que a questão de quem ultrapassa a linha e passa a ser um perigo para o Estado democrático e por isso tem de ser objecto de vigilância é “constante” e que se os serviços de segurança interna assim o determinarem, a AfD será vigiada. Dois estados federados já anunciaram a vigilância de duas alas jovem do partido, o estado da Turíngia, de um dos líderes mais radicais da AfD, Björn Höcke (que criticou o memorial do Holocausto em Berlim), anunciou que considera monitorizar o partido no estado federado.

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