Opinião anónima no NYT diz que há um movimento secreto de resistência dentro da Administração Trump

Trump chama “cobarde” ao autor de um artigo anónimo publicado pelo New York Times, um suposto membro da sua administração que revela um pacto secreto para travar os piores instintos do Presidente dos EUA.

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Donald Trump diz que não terá competição à altura nas eleições de 2020 LEAH MILLIS/Reuters

Vários altos responsáveis da Administração Trump têm vindo a trabalhar para evitar a concretização de parte da agenda do Presidente norte-americano. O objectivo é proteger os Estados Unidos dos piores instintos de Trump, lê-se num texto de opinião anónimo atribuído a um alto responsável da Casa Branca e publicado na quarta-feira à noite no jornal norte-americano New York Times.

No artigo, o autor explica que chegou a haver conversas discretas entre os membros do Governo de Donald Trump para o remover da presidência. No entanto, foi decidido não se avançar com essa medida para evitar uma crise constitucional.

O New York Times decidiu tomar aquilo que disse ser um raro passo de publicar um artigo de opinião de autoria anónima, justificando que o alto responsável governamental que escreve o texto ficaria comprometido se o seu nome fosse revelado.

Quando questionado sobre o conteúdo da coluna, Donald Trump qualificou-o de “cobarde”, criticou o jornal nova-iorquino e voltou a defender a sua governação, argumentando que os recentes indicadores económicos positivos são prova do seu desempenho na Casa Branca. Olhando para as câmaras de televisão, disse: “Ninguém vai ter hipótese de me ganhar em 2020 por causa do que eu já fiz.”

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, divulgou posteriormente um comunicado onde também se acusa o autor do artigo de cobardia e se exige a sua demissão.

Mais tarde, o próprio Trump escreveu na rede social Twitter a palavra "TRAIÇÃO" e instou o jornal nova-iorquino a revelar a identidade do autor do artigo por motivos de segurança nacional.  

O artigo de opinião surgiu após a publicação, na terça-feira, dos primeiros excertos do livro do jornalista Bob Woodward, no Washington Post, que descreve um ambiente de caos na Casa Branca.

"Dada a instabilidade que muitos testemunharam, surgiram rumores no interior do Gabinete da possibilidade de invocar a 25.ª Emenda, que daria início a um processo complexo com vista à destituição do Presidente. Mas ninguém queria precipitar uma crise constitucional. Assim, nós faremos o que pudermos para orientar a Administração na direcção certa", escreveu o responsável no artigo do New York Times.

De acordo com a 25.ª emenda à Constituição dos EUA, datada de 1967, o vice-presidente e a maioria dos responsáveis do Governo ou "outro órgão que o Congresso possa, por lei, designar”, podem declarar por escrito que o Presidente é incapaz de "cumprir os poderes e deveres de seu cargo”. Este mecanismo nunca foi usado para destituir um Presidente norte-americano e seria sempre um processo complexo.

"Queremos que o Governo tenha sucesso e acho que muitas das suas políticas já tornaram a América mais segura e mais próspera", disse o autor anónimo. "Mas acreditamos que o nosso primeiro dever é com este país, e o Presidente continua a agir de uma forma prejudicial para a saúde da nossa república".

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