Concessionária da ponte Morandi perde mais de 20% em bolsa. Governo quer acabar com portagens

Atlantia, dona da concessionária Autostrade per l'italia e controlada em 30% pela família Benetton, acumula perdas em bolsa desde que o colapso do viaduto em Génova. Governo critica grupo e accionistas

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LUSA/ALESSANDRO DI MARCO

O grupo italiano Atlantia, que controla a Autostrade per l'italia, empresa gestora e responsável pela manutenção da ponte Morandi, que desabou parcialmente na terça-feira, sofreu uma forte desvalorização esta quinta-feira, com os investidores assustados pelas ameaças do Governo em retaliar retirando-lhe a concessão das auto-estradas. A descida chegou a 25% do seu valor inicial.

No encerramento dos mercados, a Atlantia, controlada pela família Bennetton, tinha perdido 22% do seu valor, valendo cada acção 18,3 euros.

O Governo italiano insiste com a empresa para que suspenda a cobrança de portagens: "Não é possível que neste país se morra a pagar portagens", afirmou. "Com mortos ainda por identificar, a Atlantia tem o desplante de falar de dinheiro e de negócios, pedindo ainda mais milhões aos italianos se for revogada a concessão pelo Governo, depois do massacre de Génova", disse o outro vice-primeiro-ministro e ministro do Interior no Facebook, Matteo Salvini. 

A pressão resultou no anúncio de que todas as ambulâncias, mesmo as que não estejam a fazer transporte de emergência, deixarão de pagar portagens nos 3000 km de auto-estradas concessionadas à Autostrade per l'italia, controlada em 88% pela Atlantia. Mas não especificou se era uma medida permanente ou temporária.

Governo quer retirar concessão

A Atlantia, companhia dispersa na praça de Milão e detida em 30,35% pela Edizione Srl, “holding” da família Benetton, é dona de 88% da Autostrade per l'italia, concessionária rodoviária de 3000 quilómetros de auto-estrada em Itália e gestora e responsável pela manutenção da ponte Morandi.

No Governo de Roma, a vontade é de rescindir rapidamente com a concessionária. Luigi di Maio, vice-primeiro ministro, foi rápido em apontar culpados, 24 horas após a queda da infra-estrutura: “Os responsáveis têm um nome e um sobrenome: Autostrade per L’Italia”.

Mas Luigi Di Maio criticou directamente um accionista em particular: “os Benetton não pagaram a minha campanha [eleitoral], estou livre para rescindir os contratos” com a concessionária rodoviária. E ameaçou com uma multa de 150 milhões de euros.

“O problema”, afirmou Di Maio na quarta-feira, é que “quando pagamos uma portagem pensamos que o dinheiro é reinvestido em manutenção”. Mas, em vez disso, acrescentou, “aqui as pontes caem”.

Defendendo que a “Autostrade tem sua sede em Luxemburgo”, o que na prática é acusá-la de ir para um destino fiscalmente mais vantajoso e não pagar tantos impostos em Itália, Di Maio avançou desde logo com o valor de 150 milhões para a potencial multa à Autostrade, cessão de contrato e perda de licença como concessionária rodoviária.

Citada pela Bloomberg, fonte oficial do ministério dos Transportes italiano avançou. mais tarde, que o Governo de Roma poderá iniciar já esta semana o processo de revogar a licença de concessionária e operadora de auto-estradas à Autostrade. As restrições, adiantou a mesma fonte, podem contudo abranger apenas a área onde ocorreu o acidente em Génova – o Viaduto Polcevera na auto-estrada A10.

E, caso a subsidiária da Atlantia cumpra com o seu empenho de reconstruir a ponte e terminar os restantes acessos no prazo de cinco meses, a Autostrade até poderá manter a licença, notou o mesmo responsável do ministério dos Transportes à Bloomberg, que pediu para não ser identificado.

Concessionária recorda que causas estão por apurar

Contudo, em reacção as declarações governamentais - de iniciar o processo de pôr fim à concessão da Autostrade -, a gestão da Atlantia veio afirmar ao mercado que “o anúncio [de pôr fim às concessões] foi publicamente comunicado sem mencionar aviso específico de incumprimento e sem qualquer confirmação das causas materiais do acidente”.

Em comunicado emitido esta quinta-feira, 16 de Agosto, a administração da “holding” adianta que “continua a apoiar a Autostrade per l’Italia no seu diálogo com as instituições governamentais neste momento delicado, também com o propósito os interesses dos accionistas e obrigacionistas, através de uma informação correcta e atempada ao mercado”.

Porque, frisa, o anúncio desta ordem de grandeza – no fundo alterando o que é o negócio principal da Autostrade e, logo, alterando significativamente os activos da Atlantia – “poderá ter impactos nos accionistas e obrigacionistas” da companhia.

No caso de uma cessação antecipada ou revogação da concessão, adianta ainda a Atlantia na comunicação emitida esta quinta-feira, e “segundo as regras do próprio acordo de concessão”, é devida à concessionária “o pagamento de uma indemnização equivalente ao valor residual da concessão, líquida de quaisquer penalizações”, caso seja aplicável.

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