May critica Boris Johnson depois de comparar mulheres de burqa a marcos do correio

A primeira-ministra disse que as declarações do seu ex-ministro são ofensivas e há quem peça o seu afastamento da Câmara dos Comuns.

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Boris Johnson está no centro de uma nova polémica Reuters/Simon Dawson

Os comentários do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, acerca das mulheres que usam burqa estão a deixar o Partido Conservador à beira de um ataque de nervos. Nem a primeira-ministra Theresa May deixou de condenar as declarações.

Membros do partido têm vindo a público exigir que Johnson peça desculpa pelas frases que dirigiu às muçulmanas que usam burqa (peça de vestuário que cobre o rosto totalmente, deixando apenas os olhos à vista). O fundador do Conservative Muslim Forum, lorde Sheikh, sugeriu mesmo que o ex-ministro perca o lugar na Câmara dos Comuns.

Na segunda-feira, a propósito da proibição de utilização de vestuário que cobre o rosto em locais públicos aprovada na Dinamarca, Johnson teceu vários comentários depreciativos acerca das mulheres que usam burqa na sua coluna de opinião no Daily Telegraph. Apesar de se dizer contra a medida dinamarquesa, o ex-chefe da diplomacia britânica descreveu as peças de vestuário islâmico como “ridículas” e questionou porque haveriam as mulheres “de andar por aí parecendo marcos de correio”.

As declarações de Johnson foram amplamente criticadas, a começar pela própria primeira-ministra. “Penso que Boris Johnson usou uma linguagem para descrever a aparência das pessoas que obviamente ofendeu”, afirmou Theresa May. Johnson abandonou o Executivo britânico no mês passado em rota de colisão com a primeira-ministra, por causa da forma como as negociações do “Brexit” têm sido geridas.

A ex-secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros, Sayeeda Warsi, disse que a posição de Johnson “não é apenas ofensiva, mas perigosa”. “As palavras de Johnson validaram mais uma vez aqueles que vêm os muçulmanos como ‘os outros’”, escreveu Warsi, que foi a primeira muçulmana a fazer parte de um Governo no Reino Unido, num texto de opinião publicado no Guardian.

O ministro da Cultura, Jeremy Wright, avisou o ex-colega de Governo que “não estamos a falar para os nossos amigos num pub”. “Somos figuras públicas e temos uma obrigação adicional de ser cuidadosos”, acrescentou.

Johnson ainda não fez qualquer comentário à polémica que o tem envolvido, mas fontes próximas garantem que o ex-ministro mantém a sua posição. “Se deixarmos de defender os valores liberais, então estaremos simplesmente a dar terreno aos reaccionários e extremistas”, disse uma fonte do círculo próximo de Johnson, citada pela BBC.

O ex-ministro não é alheio a polémicas causadas por excessos de linguagem. Ainda em Março viu-se forçado a pedir desculpas em pleno Parlamento por ter apelidado de "Lady Nugee" à ministra-sombra Trabalhista Emily Thornberry, fazendo referência ao marido, sir Christopher Nugee. A expressão usada por Johnson foi descrita pelo speaker da Câmara dos Comuns como sexista e inapropriada.

Desde que saiu do Governo, a popularidade de Johnson disparou entre os militantes de base dos Conservadores, fazendo do ex-ministro um dos mais prováveis nomes para suceder a May à frente do partido. Receando esse cenário, o ex-procurador-geral Dominci Grieve garantiu que irá abandonar os tories caso Johnson chegue à liderança. "Não o vejo como uma pessoa indicada e com preparação para liderar um partido político, e certamente não o Partido Conservador", afirmou Grieve.

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