Santana Lopes despede-se do PSD e vai formar um novo partido

Numa carta aberta endereçada a Rui Rio, Pedro Santana Lopes escreve que quer estar num partido “em que se defendam os princípios, os valores e tradições da identidade portuguesa”.

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Nuno Ferreira Santos

Pedro Santana Lopes deixa o PSD para criar um novo partido. Está tudo numa carta aberta endereçada ao actual líder social-democrata, revelada pelo jornal Observador. “Este é um texto difícil”, começa por escrever Santana, num texto em que, sem o dizer explicitamente, dá todos os sinais que sugerem que vai continuar na política porque quer “contribuir para dar força à alternativa de que Portugal precisa para substituir a maioria de esquerda”. “Não saio por causa de ninguém. Saio por aquilo em que acredito”, afirma, garantindo querer “intervir politicamente num espaço em que não se dê liberdade de voto quando se é confrontado com a agenda moral da extrema-esquerda”.

Para Santana, “não faz sentido continuar numa organização política só porque lá [está] há muito”. “O que constatei foi que o PSD gostava muito de ouvir os meus discursos mas ligava pouco às minhas ideias”, afirma, lembrando que, “nos momentos decisivos”, o PSD “acabou quase sempre por acolher outras propostas. E isto é uma verdade incontestável”, anota.

Na carta aberta, o homem que foi derrotado por Rui Rio nas eleições directas, faz uma resenha dos 40 anos em que esteve ligado ao PSD, dos cargos, das funções que exerceu, mas também dos momentos em que “o partido não quis saber” ou “ninguém se indignou” com decisões em que acabou derrotado e o partido saiu do poder. Exemplos: a decisão de Jorge Sampaio, Presidente da República em 2004, que dissolveu a maioria parlamentar quando Santana chefiava o Governo; a decisão de o afastar em 2005 da corrida à Câmara de Lisboa. “O que os dirigentes do PSD de então fizeram foi grave”, escreve Santana, concluindo que a factura política dessas decisões está a ser paga “até aos nossos dias”.

Depois de passar em revista os anos do Governo Sócrates e da gestão de Pedro Passos Coelho no PSD e no Governo, Santana Lopes regressa aos períodos mais recentes. Na carta afirma que viu na candidatura de Rui Rio “uma estratégia de condescendência para com o PS”, algo que classifica “um erro grave”.

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Santana: “O que constatei foi que o PSD gostava muito de ouvir os meus discursos mas ligava pouco às minhas ideias” Nuno Ferreira Santos/Arquivo

“Disse, e repeti, que os militantes deveriam rejeitar a via que, de modo mais ou menos explícito, admitia o Bloco Central, insiste. Porém, ganhou a proposta de Rui Rio. “Não me identifico com o funcionamento de um partido que tem a organização interna como a que vi nessa ocasião. As razões da saída são, assim, de índole histórica, organizativa, estratégica e programática”, destaca.

Santana Lopes escreve também que recebeu palavras de incentivo para continuar ligado ao PSD. “Têm-me dito, aos mais variados níveis, durante estas semanas: fique, fique que ainda pode ser isto ou aquilo. Não é isso que me motiva”, responde, dizendo que o que o “entusiasma é ver um caminho no qual possa ter mais eficácia, para Portugal, o combate pelas ideias” que defende. E depois de afirmar que não quer militar num partido que ceda à “agenda moral da extrema-esquerda”, acrescenta que quer estar num partido “em que se defendam os princípios, os valores e tradições da identidade portuguesa”.

“Não apago estes 40 anos no PPD-PSD, a quem desejo sucesso, a bem da Democracia”, escreve, para depois então referir que quer “dar força à alternativa” de que o país “precisa para substituir a maioria de esquerda”. “É para isso que importa trabalhar. Num tempo novo a bem de Portugal.”

A carta de Santana Lopes é publicada no mesmo dia em que Rio cumpre 100 dias de mandato, após o 37.º Congresso, realizado em Maio. E coincide com uma entrevista de Pedro Duarte, no semanário Expresso, em que o antigo secretário de Estado da Juventude do Governo de Pedro Santana Lopes e director de campamnha de Marcelo Rebelo de Sousa pede uma nova estratégia e uma nova liderança para o PSD. Pedro Duarte admite estar disponível para se candidatar ao partido e deixa críticas a Rui Rio, que considera ser "candidato a vice-primeiro-ministro".

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