Marcelo marca nova reunião com bolseiros para falar de precariedade na ciência

Presidente da República já tinha recebido há uma semana um manifesto de apoio aos cientistas precários da Universidade de Lisboa.

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Delegação da Associação de Bolseiros de Investigação Científica e do Núcleo de Investigadores do Instituto Superior Técnico recebidos pelo Presidente da República JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Bolseiros científicos apelaram ao Presidente da República, numa audiência na última quinta-feira, para o cumprimento da lei e retiveram que Marcelo Rebelo de Sousa, que os vai receber novamente na próxima terça-feira, “está muito sensibilizado para a precariedade na ciência”. A delegação recebida pelo chefe de Estado no Palácio de Belém, em Lisboa, era constituída por representantes da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) e do Núcleo de Investigadores do Instituto Superior Técnico (IST).

A audiência partiu da iniciativa do chefe de Estado e ocorreu uma semana depois de lhe ter sido entregue, à porta da reitoria da Universidade de Lisboa, um manifesto de apoio aos cientistas precários da Universidade de Lisboa. O manifesto é subscrito por professores e investigadores de carreira da universidade que alertam para a precariedade do trabalho científico há “várias décadas”, defendendo o direito de investigadores, incluindo bolseiros, a uma carreira.

À saída da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas, Dulce Belo, do Núcleo de Investigadores do IST, disse que o Presidente da República “está muito sensibilizado para a questão da precariedade na ciência”, tendo ficado agendada uma nova reunião, para terça-feira, para se “começar a discutir o futuro” e “eventuais soluções”.

“Pedimos para que as leis sejam cumpridas”, frisou Dulce Belo, queixando-se da “postura conservadora” das universidades, que, assinalou, se recusam a contratar investigadores ao abrigo da legislação de estímulo ao emprego científico, que substitui bolsas de formação de pós-doutoramento por contratos de trabalho a termo.

A legislação está em vigor desde Setembro de 2016 e as alterações feitas em sede de apreciação parlamentar desde Julho de 2017.

Segundo o diploma, as instituições têm até 31 de Agosto deste ano para abrir concursos para contratar bolseiros abrangidos pela norma transitória. Enquadram-se na norma transitória os doutorados com bolsas válidas em Setembro de 2016, financiadas directa ou indirectamente pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) há mais de três anos.

De acordo com informação actualizada na segunda-feira pela FCT (a principal entidade de financiamento público da investigação científica tutelada pela Ministério da Ciência), dos 2071 bolseiros identificados para a abertura de concurso, apenas 71 contratos de trabalho foram celebrados. Todos os contratos de trabalho que forem celebrados são financiados pela FCT.

A Universidade de Coimbra “não abriu” nenhum concurso, vincou Nuno Peixinho, membro da direcção da ABIC e investigador na universidade, que tem 132 bolseiros identificados para abertura de concurso no âmbito da norma transitória.

O Instituto Superior Técnico, que pertence à Universidade de Lisboa, tem 124 bolseiros identificados e ainda não assinou qualquer contrato de trabalho.

O reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, tem assumido que prefere usar a lei para contratar professores para “reforçar o corpo docente”, uma possibilidade que a própria legislação permite, e invoca o princípio de autonomia das instituições para poder decidir se abre ou não concursos para contratar docentes ou investigadores.

Nuno Peixinho adiantou que o Presidente da República “se mostrou receptivo à discussão” do Estatuto do Bolseiro de Investigação Científica, cuja revogação é defendida pela ABIC para evitar o “recurso abusivo” ao bolseiro para desempenhar tarefas permanentes nos laboratórios.

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