Uma gaivota não voava

Há um elenco de luxo, uma ideia de encenação, um texto à prova de bala. Mas esta adaptação de Tchekhov acaba por não resultar como mereceria.

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Não demos esta hora e meia por mal empregue, mas não nos parece que esta seja uma Gaivota para ficar
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Uma das coisas boas das peças de Anton Tchekhov é que, por muito mal que a encenação ou a interpretação ou a adaptação trate o texto, são obras que praticamente sobrevivem a tudo – mesmo, no caso desta Gaivota dirigida pelo encenador teatral Michael Mayer, a uma câmara em constante carrocel que corre o risco de nos distrair do essencial. Mayer e o seu argumentista, o dramaturgo Stephen Karam, sublinham como esta família de aristocratas e artistas russos era uma família disfuncional moderna antes da palavra sequer existir, e desenham os dias e noites de verão na mansão rural como uma série de encontros e desencontros entre gente desesperadamente apaixonada pela pessoa errada.

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Polina ama o dr. Dorn que só tem olhos para Irina que ama Boris que deseja Nina, o mestre-escola Medvedenko ama Masha que ama Konstantin que tem em Nina a sua musa – e se por aqui faz algum sentido filmar tudo como uma ronda amorosa, a verdade é que esse virtuosismo da câmara impede Mayer de agarrar o peso trágico da história. Não basta ter um elenco de primeira água que ferra os dentes com gosto na oportunidade e um texto que, mesmo condensado, é à prova de bala. Era preciso que se deixasse o espaço e o ritmo para que tudo respirasse, que a tragédia anunciada fosse uma tempestade que se começa a adivinhar ao longe. Não demos esta hora e meia por mal empregue, mas não nos parece que esta seja uma Gaivota para ficar.

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