Özil renuncia à selecção e lança duras críticas ao presidente da Federação

O jogador alemão publicou no Twitter três cartas onde justifica a sua decisão com o tratamento discriminatório de que foi alvo.

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Reuters/MICHAEL DALDER

Mesut Özil anunciou este domingo que enquanto se sentir alvo de "racismo e desrespeito" não vai jogar mais pela selecção da Alemanha. O jogador alemão fez saber da sua decisão na conta oficial do Twitter, onde publicou três cartas abertas que transmitem o seu desabafo em relação a “eventos dos últimos meses”. No centro da polémica, está o encontro de Özil com o Presidente turco, Recep Erdogan, e o tratamento que o médio ofensivo recebeu por parte da Federação de Futebol Alemã e do seu presidente, Reinhard Grindel.

“É com o coração pesado e após muita consideração devido aos eventos recentes, que comunico que não vou jogar mais pela Alemanha a um nível internacional enquanto tiver este sentimento de racismo e de desrespeito. Eu costumava vestir a camisola alemã com orgulho e felicidade, mas agora não. Esta decisão foi muito difícil de tomar porque eu sempre dei tudo pelos meus colegas de equipa, a equipa técnica e o bom povo da Alemanha. Mas quando altos dirigentes da Federação Alemã de Futebol me tratam como o fizeram, desrespeitam as minhas raízes turcas e de forma egoísta me transformam em propaganda política, acabou. Não é por isso que eu jogo futebol, e não vou ficar parado sem fazer nada quanto a isso. O racismo nunca devia ser aceite”, vincou Özil.

“O tratamento que recebi da Federação Alemã de Futebol e de muitos outros faz com que não queira mais vestir a camisola da equipa nacional alemã. Sinto-me indesejado e acho que o que conquistei desde a minha estreia internacional, em 2009, foi esquecido. Pessoas com um histórico racial discriminatório não deviam ser autorizadas a trabalhar na maior federação de futebol do mundo que tem muitos jogadores de famílias de dupla nacionalidade. Atitudes como as deles simplesmente não reflectem os jogadores que supostamente representam”, fez notar o médio.

A polémica nasceu em Maio, quando o jogador do Arsenal se reuniu com o Presidente da Turquia num evento de caridade, posando para uma fotografia em que é possível ver Özil oferecer uma camisola do clube inglês a Erdogan. “Tenho noção que a nossa fotografia motivou uma grande resposta na comunicação social alemã, e enquanto algumas pessoas me acusam de mentir ou enganar, a foto que tirámos não tinha nenhuma intenção política”, disse o alemão, cujos “antecedentes familiares têm as suas raízes firmes na Turquia”. “Para mim, ter uma fotografia com o presidente Erdogan não tinha nada a ver com política ou eleições. Era eu a respeitar o cargo mais alto do país da minha família”.

Quem também não recebeu bem a fotografia foi o presidente da Federação Alemã. “Embora eu tenha tentado explicar a Grindel a minha herança, linhagem e, portanto, a razão por detrás da fotografia, ele estava muito mais interessado em falar sobe as suas visões políticas e desvalorizar a minha opinião”, lamentou o jogador. Depois do encontro, a pedido de Joachim Löw, o médio teve de interromper as suas férias para prestar declarações com o objectivo de esclarecer o assunto.

Mesut Özil também se encontrou com o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, que foi mais receptivo do que Grindel. “Eu acordei com o presidente Steinmeier que iria publicar uma declaração conjunta acerca do assunto, noutra tentativa de seguir em frente. Mas Grindel ficou chateado por não ter sido a sua equipa a lançar a primeira declaração”, revelou.

A Alemanha caiu na fase de grupos do Campeonato do Mundo, sendo o primeiro tubarão a sair da Rússia. Özil disse que Grindel o responsabilizou pelos resultados da selecção e que o médio teria de responder outra vez pelas suas acções, apesar de antes ter dito que o assunto estava “terminado”. “Estou a falar agora não por Grindel, mas porque eu quero. Não vou tolerar mais ser um bode expiatório pela sua incompetência e incapacidade de fazer bem o seu trabalho”, prosseguiu Özil, dando a conhecer que o presidente da Federação queria que tivesse saído da selecção depois da fotografia. “Aos olhos de Grindel e os seus apoiantes, sou alemão quando ganhamos, mas sou um imigrante quando perdemos”. 

O jogador do Arsenal chamou também a atenção para a nacionalidade de dois colegas com quem jogou na selecção: “Existe algum critério para ser completamente alemão que eu não preencha? Os meus amigos Lukas Podolski e Miroslav Klose nunca são referidos como alemão-polaco, então por que é que eu sou alemão-turco?”. “É porque é a Turquia? É porque sou muçulmano?”, interrogou Özil, que perguntou ainda por que é que ainda as pessoas não o aceitam apesar de ter nascido e sido educado na Alemanha.

Falando especificamente sobre os media alemães, Özil disse que não criticaram a sua prestação no Mundial da Rússia. Em vez disso, apontaram armas à sua descendência turca. “Certos jornais alemães estão a usar a minha origem e fotografia com o presidente Erdogan como propaganda de direita para promover as suas causas políticas”, criticou.

O jogador foi também abandonado por dois parceiros de um projecto vocacionado para “crianças imigrantes, crianças de famílias pobres e outras crianças poderem jogar futebol juntas e aprenderem as regras sociais para a vida” na sua antiga escola em Gelsenkirchen. “Para além disso, a escola disse aos meus managers que não queriam que eu estivesse lá nesta altura, porque ‘receavam os media’ por causa da minha fotografia com o presidente Erdogan, especialmente com o ‘partido de direita de Gelsenkirchen a crescer’”, lamentou o jogador.

Apesar da polémica que envolve Özil, a Adidas, a Beats e a BigShoe ainda se mantêm ao lado do médio. “Eles estão acima dos disparates criados pelos media alemães, e nós conduzimos os nossos projectos de maneira profissional”.

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