Assad tomou Deraa e há 250 mil deslocados em situação “terrível”

Regime sírio declara a conquista da cidade que foi o berço da revolta contra o líder em 2011. Mas muitas das 250 mil pessoas que fugiram da ofensiva continuam no deserto, sem abrigos ou condições.

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Deslocados no deserto: já 12 pessoas morrerampor falta de condições ALAA AL-FAQIR/Reuters

Deraa foi tomada pelas forças do regime, anunciaram os media estatais sírios, descrevendo que pela primeira vez em sete anos as forças de Bashar al-Assad entraram na cidade e içaram a bandeira síria. Enquanto isso, cerca de 250 mil pessoas que fugiram da ofensiva governamental estão em condições precárias no deserto na parte Sul do país. E na parte oriental do país, na fronteira com o Iraque, havia relatos de um ataque norte-americano contra combatentes do Daesh que deixou dezenas de mortos, incluindo também civis.

A tomada de Deraa na quinta-feira pelas forças do regime é de enorme importância para o regime. Foi aí que nasceram os protestos contra Assad, inspirados nos movimentos de revolta na Tunísia e no Egipto. A primeira acção foram uns rabiscos contra Assad grafitados numa parede por um grupo de homens e adolescentes, em Março de 2011. Estes foram detidos, e dias depois mortos com sinais de tortura (unhas arrancadas, um dos corpos, de um rapaz de 13 anos, não tinha genitais). Depois da tomada de Deraa na quinta-feira um deputado leal a Assad, Fares Shehabi, perguntava no Twitter se tinham encontrado as unhas dos rapazes.

O caso provocou uma onda de indignação e mais protestos, que foram brutalmente reprimidos; os revoltosos começaram a usar armas e o conflito transformou-se numa guerra civil, que se complicou com a entrada em cena de grupos islamistas que lutaram com ou contra os rebeldes. O apoio militar do Irão e do grupo xiita libanês apoiado por Teerão Hezbollah, e sobretudo o da Rússia, ajudaram Assad a recuperar território e a conquista de Deraa é uma das últimas vitórias. Entretanto, morreram mais de 350 mil pessoas e 11 milhões deixaram as suas casas.

A ofensiva a Deraa foi responsável por um dos maiores episódios de deslocação do conflito, diz o diário britânico The Guardian. Temendo operações semelhantes às de Ghouta Oriental, meses antes, em que morreram mais de 2000 pessoas em ataques particularmente violentos e indiscriminados, mais de 250 mil civis fugiram para zonas de fronteira, ou com Israel ou com a Jordânia.

Enquanto a maioria dos que estavam perto da Jordânia regressaram às suas casas quando as aldeias assinaram tréguas com o regime, os que estão perto de Israel – que eram cerca de 70% do total, diz a ONU – mantinham-se lá. Segundo o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU, estão em condições “terríveis”, a dormir em automóveis ou no chão, sem acesso a água potável e com provisões alimentares a terminar. Pelo menos 12 pessoas morreram por desidratação (as temperaturas chegam a 45 graus), água contaminada ou picadas de escorpiões.

Ainda na zona, mísseis israelitas abateram esta semana dois drones vindos de território sírio, um na quarta-feira feira e outro na sexta – numa das vezes a retaliação foi contra posições do Hezbollah na parte Sul da Síria. Israel disse várias vezes que não permitiria a presença de forças ligadas ao Irão tão perto do seu território.

Enquanto isso, um ataque norte-americano atingiu uma posição do Daesh, que mantém uma pequena presença perto da fronteira com o Iraque, matando 54 pessoas, das quais 28 eram civis, segundo o grupo Observatório Sírio para os Direitos Humanos. O observatório, com sede em Londres, disse ainda que a maioria dos civis mortos eram iraquianos. Os Estados Unidos confirmaram um ataque na zona, mas disseram não ter mais informação.

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