Os rapazes começaram a sair da gruta, mas há ainda um longo caminho a percorrer

Foram resgatadas quatro crianças da equipa de futebol que está encurralada numa gruta há mais de duas semanas no Norte da Tailândia. A operação continua na segunda-feira sob a ameaça de chuvas fortes.

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LUSA/PONGMANAT TASIRI

Mais de duas semanas depois de terem entrado numa gruta na província de Chiang  Rai, no Norte da Tailândia, o grupo de rapazes de uma equipa de futebol começou a ser resgatado. As primeiras quatro das 12 crianças que ficaram presas na gruta, juntamente com o seu treinador de 25 anos de idade, foram retiradas do interior, numa operação delicada e complexa que foi classificada como uma "obra-prima". Os trabalhos vão ser retomados esta segunda-feira, sendo incertas as condições que as equipas de salvamento vão encontrar.

Durante o fim-de-semana, o governador de Chiang Rai, Narongsak Osottanakorn, tinha já explicado que as equipas estavam numa “guerra contra a água e o tempo”. Isto porque, em plena época de monções, estão previstas chuvas intensas para os próximos dias, que podem inundar várias secções da rede de grutas dificultando, ou mesmo inviabilizando, os trabalhos de salvamento.

Foi por isso que a operação arrancou mais cedo do que o esperado, de forma a aproveitar as condições que eram as mais favoráveis até então, e que podem não voltar a surgir. “Chegou o 'Dia D'”, disse o governador de Chiang Rai. “As crianças estão física e mentalmente preparadas. Estão decididas [a sair] e sabem como se vai desenvolver a evacuação. Vão todos voltar para casa connosco, não importa o que tenham de enfrentar”, acrescentou.

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A operação começou às 10h locais (05h em Lisboa) e decorreu de forma mais célere do que nos treinos efectuados nos dias anteriores, de acordo com o que disse Osotthanakorn, em conferência de imprensa: “A operação de hoje foi mais rápida do que os ensaios. Dez minutos mais rápida.”

“O prazo ideal que se abriu estava a começar a fechar-se”, explicou o governador. “Estávamos à espera que chegasse este momento para começar a evacuação, quando estamos todos prontos e se pode garantir a 100% a segurança dos 13”.

Osotthanakorn confirmou o resgate de quatro rapazes, que foram assistidos por equipas médicas no local e depois transportados de helicóptero para o hospital provincial apesar de estarem bem de saúde, e contrariou notícias anteriores que davam conta do salvamento de seis dos jovens.

“Quatro foram resgatados da gruta. Consideramos isto um grande sucesso”, disse Osotthanakorn, descrevendo a operação como uma “obra-prima”.

Não se conhece, para já, a identidade dos quatro: sabe-se apenas que foram os primeiros a sair por apresentarem o estado mais débil do grupo. As restantes oito crianças, e o seu treinador, encontram-se no mesmo sítio onde foram encontrados à espera da sua vez para verem finalmente a luz ao fundo do túnel. 

O plano envolveu o esvaziamento, até ao máximo possível, das grutas inundadas pela chuva, tendo sido bombeados milhões de litros de água nos últimos dias. Aproveitando o facto de os níveis de água estarem nos mínimos desde a semana passada, quando o grupo foi encontrado com vida, e ainda por se ter considerado que o estado físico e psicológico dos jovens se apresentava estável, um grupo constituído por cinco mergulhadores tailandeses e 13 estrangeiros lançou-se na árdua tarefa de resgatar os jovens.

A viagem dos mergulhadores de ida e regresso para o local onde se encontra a equipa de futebol, a quatro quilómetros da entrada da gruta, demora cerca de 11 horas (seis para a ida e cinco para o regresso).

Os rapazes, com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos, saíram do local utilizando uma máscara de oxigénio. Cada um foi acompanhado por dois mergulhadores, guiados por uma corda colocada ao longo de todo o trajecto -- um aspecto que se revelou essencial para ultrapassar as estreitas passagens submersas por onde passa apenas uma pessoa.

Para concretizar este plano foi preciso dar aulas de mergulho às crianças, o que gerou alguma preocupação. Além de ter sido tudo feito em contra-relógio, receava-se que as crianças pudessem estar psicológica e fisicamente frágeis – pois passaram pelo menos nove dias sem comer antes de terem sido encontradas – e por algumas não saberem nadar.

Ao todo, os rapazes poderiam ter de passar entre dez a 15 minutos submersos, dependendo do nível de água, sendo que a maior parte do caminho de volta para o exterior é feito a pé.

A enorme dificuldade do trajecto ficou evidente, de forma trágica, com a morte de um mergulhador por falta de oxigénio, na sexta-feira, quando estava a realizar os preparativos para a operação no interior da gruta. Os trabalhos acabaram por ser interrompidos.

A equipa que está a conduzir o resgate é composta por 90 especialistas, sendo que 40 são tailandeses e os outros 50 estrangeiros (incluindo uma equipa de mergulhadores britânicos considerada de topo a nível mundial neste tipo de operações).

As chuvas que se aproximam, e que já se fizeram sentir neste domingo, e os baixos níveis de oxigénio no interior da gruta, que continuam a diminuir, prometem não lhes dar tarefa fácil. Por isso, apesar de já se ter iniciado, o caminho a percorrer para fazer regressar a equipa de futebol é ainda longo e cheio de obstáculos.

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