Seehofer oferece a Merkel mais uma oportunidade para salvar a coligação

Ministro do Interior confirmou intenção de se demitir mas acedeu em encontrar-se esta segunda-feira com Merkel para uma derradeira tentativa de acordo sobre a política migratória.

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REUTERS/Hannibal Hanschke

Temporariamente suspenso durante a cimeira europeia da semana passada, o braço-de-ferro entre Angela Merkel e o seu ministro do Interior, Horst Seehofer, por causa da política de imigração, foi retomado este domingo e com consequências potencialmente dramáticas para o futuro da aliança entre a CDU, da chanceler, e a CSU, partido-irmão na Baviera – e, consequentemente, da coligação de Governo.

Na sequência das negociações com os parceiros europeus em Bruxelas, Seehofer anunciou que iria abandonar o executivo e a liderança da CSU devido à posição irredutível de Merkel sobre a imigração e a política de asilo da Alemanha. Mas terá sido convencido por membros do partido a dar mais uma oportunidade à líder do executivo.

“Em nome do interesse nacional e da aptidão deste Governo, que nós queremos que se mantenha, vamos ter mais uma tentativa para alcançar um acordo”, confirmou o ministro aos jornalistas, na madrugada desta segunda-feira, após uma longa reunião com a liderança da CSU, em Munique. “Tudo o resto será decidido depois”, afirmou, citado pela Deutsche Welle.

Os dois líderes vão reunir-se por volta das 17h em Berlim (menos uma hora em Portugal continental). De acordo com a Reuters, a decisão final de Seehofer será revelada nos próximos três dias. 

Um eventual abandono da CSU a Merkel pode marcar o fim de uma aliança política de quase 70 anos e colocar em causa a viabilidade do actual Governo alemão, sustentado pela maioria parlamentar da CDU, CSU e SPD. A confirmar-se, nenhum dos cenários é animador para a chanceler: executivo minoritário ou eleições antecipadas.

No centro do conflito entre Merkel e Seehofer está a defesa de uma posição mais restritiva do segundo, relativamente à chegada de migrantes irregulares à Alemanha. O ministro do Interior defende que as forças de segurança devem poder impedir a entrada imediata no país de requerentes de asilo que se tenham registado primeiro noutros países europeus – segundo o regulamento de Dublin, o país de registo dever ser o de acolhimento.

Estava, por isso, à espera que a chanceler abordasse esta possibilidade – que Merkel sempre rejeitou – na cimeira de chefes de Governo da União Europeia. O regresso a casa foi, então, o regresso à carga. Mas a chanceler voltou a torcer o nariz.

Para Hans-Peter Friedrich, da CSU, a posição irredutível da líder da CDU sugere que esta vê com maus bons olhos a saída de Seehofer. “A sua atitude [de Merkel] faz aumentar a suspeição de que aceitaria alegremente vê-lo ir-se embora”, disse à rádio Deutschlandfunk. “Cabe a Horst Seehofer tirar as suas próprias conclusões.”

A manutenção de uma posição dura sobre a imigração por parte de Seehofer está intimamente relacionada com a realização de eleições na Baviera, em Outubro. A renovação da maioria absoluta do partido no parlamento daquele estado federado está em risco com o crescimento da plataforma de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) na região. A adopção de uma política migratória restritiva é, por isso, essencial para se manter o apoio do eleitorado mais conservador, segundo a liderança da CSU.

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