Obrador vence presidenciais e rompe com décadas de governos à direita

AMLO logrou mais de 50% dos votos, confirmou revolução à esquerda no México e prometeu “não falhar”. “Tenho consciência da minha responsabilidade histórica”, afiançou.

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À terceira foi de vez. Depois de duas candidaturas perdidas, em 2006 e 2012, Andrés Manuel López Obrador, líder do Movimento Regeneração Nacional (MORENA, de esquerda), venceu as eleições presidenciais mexicanas, com cerca de 53% dos votos – o maior número de apoios alguma vez conseguido por um candidato à presidência no México, se os números provisórios do Instituto Nacional Eleitoral (INE) se confirmarem.

Com o resultado histórico deste domingo, AMLO – como também é conhecido – sucede a Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI, de centro-direita) e consolida a viragem à esquerda de um país governado há décadas por Presidentes e Governos de direita e que nos últimos anos se afogou em violência, corrupção e desigualdade.

Nestas eleições estão ainda em jogo todos os lugares no Congresso (Senado e Câmara dos Deputados) e milhares de cargos públicos a nível municipal e local, cujas contagens ainda prosseguem. 

Obrador era o grande favorito à vitória deste domingo e não precisou de esperar muito para ser felicitado pelos seus adversários. Pouco depois de conhecidas as primeiras sondagens à boca das urnas, Ricardo Anaya (PAN, direita) e José Antonio Meade (PRI) reconheceram a derrota e congratularam o dirigente político de 64 anos, que concorreu pelo movimento Juntos Faremos História.

De acordo com o INE, Anaya somou cerca de 22% dos votos, enquanto o antigo ministro das Finanças e dos Negócios Estrangeiros de Peña Nieto, José Antonio Meade, ficou-se pelos 16%. Em último lugar na contenda presidencial ficou o independente Jaime Rodríguez, com pouco mais de 5% da votação total.

Depois de uma campanha eleitoral polarizada e conflituosa, marcada pela violência – foram assassinados 46 candidatos – Obrador lançou um apelo à reconciliação e garantiu ter consciência do momento histórico que o país atravessa.

“Chamo todos os mexicanos a colocar o interesse superior [do país] por cima dos interesses pessoais, por mais legítimos que sejam”, pediu, citado pelo jornal mexicano El Financiero, aquando do seu discurso de vitória. “Asseguro-vos que não vos irei falhar e que não se vão desiludir. Tenho a perfeita consciência da minha responsabilidade histórica e quero ficar na história como um bom presidente do México”, afiançou.

Após prometer que vai “transformar o México”, AMLO sublinhou que a luta contra a corrupção e a impunidade será prioritária no seu mandato e procurou descansar os mercados, assegurando disciplina financeira e fiscal, além de respeito total da autonomia do Banco do México.

A vitória de Obrador espoletou uma onda de reacções um pouco por todo o mundo, com destaque para a de Donald Trump, com quem o próximo Presidente do México terá obrigatoriamente de se sentar, para debater uma das orientações políticas mais hostis dos Estados Unidos, em relação ao vizinho do Sul, de que há memória

Através do Twitter, o chefe de Estado norte-americano deu os parabéns a Obrador, disse estar “bastante entusiasmado para trabalhar com ele” e lembrou que “há muito para fazer”.

Emmanuel Macron (Presidente de França), Pedro Sánchez (presidente do Governo de Espanha) Jeremy Corbyn (líder da oposição no Reino Unido), Yanis Varoufakis (ex-ministro das Finanças da Grécia) ou Nicolás Maduro (Presidente da Venezuela) são algumas das figuras políticas que recorreram igualmente ao Twitter para felicitar o mexicano pela vitória. 

Obrador encontrar-se-á com Peña Nieto na próxima terça-feira para discutir a transição de poder. O novo Presidente iniciará funções no início de Dezembro.

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