A França cresceu e a Argentina ruiu

Messi despediu-se do Mundial num jogo em que Mbappé foi a grande figura, ao marcar dois golos. Os argentinos não terão saudades deste torneio, enquanto os franceses ganharam ambições.

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Mbappé marcou dois dos quatro golos da França LUSA/ROBERT GHEMENT

Lionel Messi e “huevos” gigantes. Esse era o único plano da Argentina no Mundial 2018. Chegou para ultrapassar a fase de grupos (e provocar uma quebra de tensão a Diego Armando Maradona), mas não chegou para ir mais longe que os oitavos-de-final. Porque a França tinha guardado para Kazan a revelação da sua verdadeira identidade, um colectivo cheio de talento jovem, solidário, veloz e virtuoso, com vontade de chegar longe, corporizado em Kylian Mbappé, figura maior do triunfo por 4-3 que lançou os “bleus” para os quartos-de-final.

A Argentina vê-se a si própria como um país predestinado para o futebol e tem razões para isso. E essa convicção, mais a evidência de ter do seu lado um dos melhores de todos os tempos, foi o que conduziu a selecção “albiceleste” em direcção à luz neste e noutros Mundiais, momentos avulsos de pura crença, que também existiram ontem, em Kazan. Mas este tudo da Argentina foi pouco para o muito da França. O combustível emocional dos sul-americanos ainda levou a discussão do jogo até ao último minuto, mas a realidade impôs-se.

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Depois de uma gestão de recursos no último jogo da fase de grupos, Didier Deschamps voltou ao seu plano de gala na esperança que as suas “estrelas” funcionassem, finalmente, como uma unidade. Estavam lá quase todas, Pogba, Mbappé, Griezmann, mais Kanté, Giroud e Matuidi, num “onze” que o treinador foi apurando ao longo deste Mundial. Do outro lado, Jorge Sampaoli, o homem sem plano, voltava a inventar: desta vez, a Argentina iria jogar sem ponta-de-lança. A intenção era óbvia, esperar que algum dos seus virtuosos fizesse alguma coisa.

A França deixou um avisou logo aos 9’, com um livre directo executado por Griezmann que bateu na trave da baliza de Franco Armani. Mas dois minutos depois, o avançado francês não falhou na conversão de um penálti que castigou uma falta de Marcos Rojo sobre Mbappé. Adivinhava-se uma caminhada tranquila da França, que não forçou demasiado, para não deixar o caminho aberto à recuperação argentina.

Mas se há alguma coisa que o mundo do futebol já devia saber era que é sempre um risco dar a Argentina como morta. E, aos 41’, Angel di Maria ressuscitou as esperanças dos sul-americanos com um tremendo remate de fora da área que não deu quaisquer hipóteses a Hugo Lloris. O ex-benfiquista andava desaparecido neste Mundial, mas teve um momento de inspiração maradoniana quando a Argentina mais precisava

Foi um momento que elevou a crença argentina a níveis estratosféricos e lançou a França num mar de dúvidas. Estes estados de espírito foram transportados para a segunda parte e tiveram seguimento aos 48’. A bola chegou a Messi, que teve algum espaço na área francesa e alvejou a baliza, mas a bola sofreu um desvio em Mercado e, pela primeira vez em Kazan, a Argentina colocou-se na frente. Mas foi por pouco tempo.

A França foi com tudo em busca do empate e conseguiu-o aos 57’, com um tremendo remate de fora da área do lateral-direito Pavard, um das boas surpresas deste Mundial. Demorou ainda menos o golo da reviravolta francesa. Mbappé conseguiu ganhar um ressalto na área argentina aos 64’, fez tudo bem e depressa e a bola só acabou no fundo das redes argentinas. Aos 68’, veio o momento colectivo do jogo na forma de um contra-ataque perfeito que começou em Lloris, passou por Matuidi e por Giroud, antes de ser finalizado na passada por Mbappé.

A Argentina ainda conseguiu reduzir para 4-3 no segundo minuto do tempo de compensação, com Aguero a cabecear para a baliza de Lloris após grande passe de Messi. Depois disso, de típica forma argentina, Otamendi resolveu arranjar confusão quando todos os segundos contavam. O tempo foi-se esgotando, mas, ainda assim, a Argentina conseguiu levar a bola até à área francesa. O desvio foi ao lado e o jogo acabou logo a seguir. A França afirmou-se como candidato forte, a Argentina ficou em depressão e sem saber se vai ter Messi daqui a quatro anos.

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