Entre o Cais do Sodré e Queens

Bruno de Almeida continua a explorar o seu limbo pessoal entre Lopes, Cassavetes e Scorsese, com uma enorme generosidade no seu olhar.

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Bruno de Almeida, Michael Imperioli, Cabaré Maxime
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Há uma generosidade enorme no olhar de Bruno de Almeida sobre as suas personagens, perdidas nas brumas de cidades que já não voltarão a existir e na nostalgia de um tempo que já não volta.

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É uma generosidade que se estende também aos actores que as interpretam, que por esta altura já fazem parte de uma “companhia” regular que se repete de filme para filme (Ana Padrão, Michael Imperioli, John Ventimiglia, John Frey, Nick Sandow…). Mas essa generosidade parece nascer, também, da própria identidade existencial do cineasta, ele próprio “perdido”, fora do tempo e fora do espaço, nem português nem americano.

Bruno de Almeida tem vindo a construir um limbo próprio, nocturno, deslocado, preso entre a liberdade alfacinha do Cinema Novo e a liberdade criativa dos pioneiros nova-iorquinos, algures entre Fernando Lopes, John Cassavetes e Martin Scorsese. É um limbo que se faz e desfaz com cada projecto, que torna os filmes do realizador tão sentidos como frágeis, tão sinceros como bizarros, mesmo que sempre coerente e a dar o flanco — ver mafiosos de falar nova-iorquino no Cais do Sodré enquanto Manuel João Vieira canta Florbela Espanca-me está naquela linha de fronteira entre o inspirado e o ridículo, e consoante os momentos cai para um lado ou para o outro. Cabaret Maxime é um requiem por algo que nunca existiu; a sua generosidade não o salva de se esfumar no nevoeiro sebastiânico desse sonho nostálgico.

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