Sporting investigado por suspeitas de comprar árbitros no andebol

Um intermediário terá comprado equipas de arbitragem de modo a beneficiar os "leões" sob as ordens de André Geraldes. Agiu não só nos jogos disputados pelo Sporting, como nos jogos de equipas rivais, como o FC Porto. O Ministério Público está a investigar o caso. Clube diz estar a ser alvo de uma "campanha".

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Benfica- Sporting, jogado a 31 de Maio de 2017 LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Na época passada, a equipa de andebol do Sporting conquistou o primeiro título de campeão nacional em 16 anos. Agora, esse título pode estar em risco. Na edição desta terça-feira, o Correio da Manhã (CM) põe a descoberto o que qualifica como um sistema de corrupção e de compra de equipas de arbitragem. Alegadamente, os acordos com os árbitros foram feitos para que o Sporting ganhasse, mas também para que o FC Porto, equipa contra a qual os “leões” disputaram o campeonato até ao fim, perdesse.

Ao PÚBLICO, fonte da Procuradoria-Geral da República confirmou que a existência de um inquérito sobre este caso dirigido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto e que está actualmente em segredo de justiça. 

Em comunicado, o Sporting diz não se rever "em qualquer prática que desvirtue a verdade desportiva ou que sejam ética, moral e socialmente censuráveis" e qualifica a manchete do Correio da Manhã como “o primeiro capítulo de uma campanha” destinada a “denegrir a imagem” do clube. Ao mesmo tempo, o clube afirma estar "obviamente disponível para colaborar em todas as diligências que se entendam necessárias", depositando confiança "na justiça e no Estado de Direito".

De acordo com Paulo Silva, um dos intermediários que falou ao CM, os “leões” chegaram a comprar árbitros em partidas dos rivais, como o Benfica-FC Porto. Nesse jogo, Paulo Silva convenceu a equipa de arbitragem a beneficiar o Benfica, de modo a isolar o Sporting no primeiro lugar. Um dos árbitros da dupla do encontro entre o Benfica e o FC Porto terá recebido 2000 euros para favorecer o clube da Luz.

No rescaldo do jogo, os "dragões" chegaram mesmo a contestar os erros de arbitragem junto da Federação Nacional de Andebol, que indeferiu o protesto por considerar que não existiram fundamentos, confirmando a vitória do Benfica.

O então treinador do FC Porto, Ricardo Costa, já reagiu à peça publicada pelo Correio da Manhã. Ao Record, o técnico diz que quando o FC Porto jogou contra o Benfica, em 2017, ficou com “a sensação de [terem havido] vários erros na arbitragem”. “O FC Porto levantou um processo junto da federação, foi admitido que houve erros, mas de nada adiantou e acabámos por perder o campeonato". Nas suas palavras, esta é uma “página negra do andebol nacional”, mas espera que se apure a verdade durante as investigações.

O Sporting terá pago para o Benfica ganhasse mas também para que perdesse, no jogo do título disputado a 31 de Maio, que os “leões” ganharam por 25-23. Nas mensagens divulgadas pelo CM, Silva diz ter oferecido 1500 euros aos árbitros: “Já tratei da situação. Disse-lhes que se ganharmos dou-lhes um brindezinho, falei-lhes no valor, claro, 1,5…. E disse-lhes, pá, pronto ‘Queremos muito ser campeões. Se as coisas estiverem complicadas, eh pá, têm de dar aí uma mãozinha’. Ele garantiu-me que não nos vai prejudicar. E ficou assim a conversa”.

André Geraldes, antigo director de modalidades e braço direito do presidente do clube, estaria no comando da operação, segundo o Correio da Manhã. Paulo Silva, encarregado de pagar aos árbitros, diz nunca ter falado com ele. Era com João Gonçalves, outro intermediário, que acertava valores e trocava mensagens por Whatsapp.

Ao CM, Paulo Silva afirma ter recebido comissões de cerca de 350 euros, mas que agiu, sobretudo, pelo seu sportinguismo. Foi em nome do clube que o empresário da área do futebol agiu. “Só fiz isto para combater a fraude que já existia nas modalidades”, disse.

O intermediário conta que o esquema começou com um árbitro que lhe disse que “podia colaborar” porque até era sportinguista, “e que depois não quis receber um tostão”.

Paulo Silva diz que a equipa da época 2016/2017 era forte e que provavelmente ganharia o campeonato, mas que os árbitros foram subornados como “forma de garantia”. Agora, diz-se arrependido e espera clemência da parte da justiça civil e desportiva pela sua disponibilidade e cooperação. 

Segundo o Correio da Manhã, o empresário arrisca-se a uma pena de prisão por corrupção desportiva e o Sporting arrisca-se a perder o título conquistado pela primeira vez ao fim de 16 anos.

Em comunicado, a Federação Portuguesa de Andebol (FPA) afirmou que irá denunciar o sucedido ao Ministério Público – que, de resto, já confirmou estar a investigar o caso –, e informou que a direcção participará o caso ao Conselho de Disciplina da Federação. A FPA mostra-se ainda “inteiramente disponível” para “colaborar com as entidades competentes" para apurar "eventuais responsabilidades desportivas, civis ou criminais de agentes desportivos filiados na modalidade”.

Notícia actualizada às 11h32, com confirmação da investigação por parte da Procuradoria-Geral da República.

Notícia actualizada às 13h06, com reacção da Federação Portuguesa de Andebol e declarações de Ricardo Costa, treinador do FC Porto na época 2016/2017. 

Notícia actualizada às 13h54, com o comunicado do Sporting.

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