Guia para perceber a OPA dos chineses à EDP

A China Three Gorges quer ficar com toda a EDP. Para isso oferece um prémio, impõe condições e faz promessas.

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Adriano Miranda

O que levou China Three Gorges a lançar esta OPA?

Os chineses da China Three Gorges (CTG) já controlam 23% da EDP, embora com os 5% da também chinesa CNIC, o Estado chinês controle um total de 28%. Apesar de ser o maior accionista da eléctrica, o restante capital está muito disperso por milhares de accionistas e vulnerável à cobiça de grandes grupos eléctricos europeus, numa altura em que subiu a intensidade dos movimentos de fusões na Europa. De tal forma, que a EDP já tinha sido envolvida em vários rumores, nunca confirmados, de negócios com franceses, espanhóis ou alemães. Com esta OPA sobre a totalidade do capital, os chineses tentam tornar mesmo apelativo uma luta pelo controlo da EDP, tornando-se hegemónicos na estrutura accionista.

Quanto oferece?

A oferta pública de aquisição (OPA) é feita a 3,26 euros por cada acção, avaliando a EDP em cerca de 11.920 milhões de euros, um valor que representa um prémio de 4,82% face ao valor de fecho de sexta-feira na bolsa de Lisboa. O prémio sobe para 10,8% se for considerado o preço médio ponderado das acções” nos seis meses anteriores à data do anúncio, uma referência habitual neste tipo de operações. Há seis anos, a CTG tinha oferecido 3,45 euros por acções, um preço que pulverizou a concorrência dos brasileiros da Electrobras e da Cemig, ou dos alemães da E.ON.

Quais são as condições da oferta?

Para além das habituais condições das operações deste género – como a aprovação dos reguladores em todos os mercados onde está presente a EDP – esta oferta está condicionada a dois factores decisivos: alterar estatutos da empresa para remover os actuais limites dos direitos de voto, nos 25%; e à aceitação de 50% dos direitos de voto, mais um. Adicionalmente, o grupo chinês requer ainda que o Governo português não se oponha à operação.

É uma OPA hostil?

Ainda não se sabe. Para já, a condição de que o Governo não se oponha já foi garantida pelo primeiro-ministro António Costa, que ainda antes de a oferta ter sido divulgado ao mercado, já tinha à distância assegurado que não se iria opor. Mas cabe à administração da EDP decidir se considera esta iniciativa hostil – o que, dado que António Mexia foi reconduzido recentemente à frente da eléctrica, é pouco provável – ou se avalia o preço como baixo, um cenário que não é assim tão raro neste tipo de operações.

O que pode ganhar a EDP com esta OPA?

Para além dos accionistas (pequenos e grandes) poderem encaixar algum dinheiro, consoante o investimento que tiverem feito, a CTG promete “fortalecer a colaboração industrial” com fornecedores e “criar oportunidades atraentes para todos os funcionários da EDP”. Por outro lado, em termos estratégicos, a empresa diz que quer que a EDP “venha a liderar as operações e a expansão da CTG na Europa, nas Américas e nos países lusófonos”. Para além disso, promete ainda uma “aportação de activos” o que na prática se traduziria numa “racionalização de portefólios de negócio combinados, no fortalecimento do perfil de crédito da EDP”, com menos dívida e maior poupança de custos.

Porque foi envolvida a EDP Renováveis nesta operação?

Decorre da lei. A partir do momento que se propõe a comprar a totalidade da EDP, e tendo em conta que a eléctrica controla mais de 80% da Renováveis depois de uma OPA de contornos semelhantes lançada recentemente pela própria EDP, a própria CTG destaca que “cumprirá a sua obrigação legal de lançar uma oferta pública obrigatória sobre 100% do capital social da EDP Renováveis a 7,33 euros por acção”.

Quem está a trabalhar nesta OPA?

O Millennium BCP – que controla 2,44% da EDP –, é o intermediário financeiro da OPA, em mais um sinal da aproximação que existe entre as duas instituições, dado que o banco é também ele controlado por um grupo chinês, a Fosun. Já o consultor financeiro da CTG é o Bank of America-Merrill Lynch, enquanto que a Linklaters LLP e a SLCM – Serra Lopes Cortes Martins & Associados são os assessores jurídicos.

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