Há muitas maneiras de um piano respirar

Pianistas como Bruno Bavota ou James Rhodes mostrarão em Braga as múltiplas formas de expressão deste instrumento. Até 2 de Junho, o ciclo Respira! levará cinco concertos ao Theatro Circo; o primeiro, este sábado, cruza a electrónica de Murcof e as teclas de Vanessa Wagner.

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O duo alemão Grandbrothers encerra o ciclo a 2 de Junho DR

O Theatro Circo vai reunir compositores e intérpretes dos sons do presente e do passado para fazer do piano o seu pulmão ao longo do mês de Maio. O barroco de Bach, o minimalismo de Philip Glass e o vanguardismo de John Cage, e ainda o jazz e a electrónica, vão propagar-se como o oxigénio pela centenária sala de espectáculos. “A ideia base do ciclo Respira! é dar a conhecer nomes que, simultaneamente, são autores e instrumentistas. Isso permite-nos trabalhar em várias áreas da música”, esclarece ao PÚBLICO o programador do Theatro Circo, Paulo Brandão.

Depois de uma primeira edição em que sobressaíram Wim Mertens e os registos mais pop de Douglas Dare e Rufus Wainwright, o Respira! procura, neste segundo ano, mostrar que o piano “não é uma coisa absolutamente limitada, nem um instrumento parado no tempo”. Paulo Brandão vê o instrumento como um pulmão: "Não é uma coisa transportável como uma tuba ou uma harpa. É quase como um órgão do intérprete ou do compositor, que está sempre com ele.”

A viagem por alguns dos territórios ao alcance de um piano arranca já este sábado, com os sons electrónicos de Murcof, nome artístico do mexicano Fernando Corona, a acompanharem a performance da francesa Vanessa Wagner. O duo vai apresentar o último álbum, Statea (2017), que reinterpreta composições do século XX, como Gnosienne, número 3, de Erik Satie, In a landscape, de John Cage, China gates, de John Adams, e Metamorphosis 2, de Philip Glass. Para Paulo Brandão, e apesar de não ter composições originais, este disco é uma “obra-prima”, precisamente por alargar as fronteiras da interpretação em criações de outros autores. “Uma pessoa julga que perante um tema do Philip Glass e do Erik Satie já não há mais nada a interpretar, mas aqui não conseguimos saber se o piano está transformado ou não”, descreve.

Outro intérprete em destaque neste segundo Respira! é o britânico James Rhodes, que chega a 26 de Maio. Presença assídua em programas da BBC, da Sky e do Channel 4, o pianista vai reinterpretar uma obra de Bach, duas de Chopin e uma de Rachmaninov, num concerto que deverá ser o primeiro a esgotar os 875 lugares da sala, avança Paulo Brandão. Para o programador, Rhodes distingue-se pelo carisma na “forma muito particular de abordar o clássico ou o barroco”.

Estava previsto que o primeiro compositor a actuar em Braga, a 12 de Maio, fosse o ucraniano Lubomyr Melnik, pianista com um reportório de mais de 120 obras, que se distingue pela técnica contínua – um fluxo sonoro sem silêncios –, pelas séries complexas de notas e pelo recorde mundial, isto já num ponto de vista mais técnico do que artístico, de 19,5 notas por segundo numa só mão. O autor, de 69 anos, ficou porém impedido de se deslocar a Braga, após ter sido hospitalizado. No seu lugar, surge o único nome português do ciclo, o Duo XL, projecto do tubista Sérgio Carolino e do pianista Telmo Marques, que já trabalhou com os bracarenses Mão Morta.

O italiano Bruno Bavota e os Grandbrothers, duo de Düsseldorf formado por Lukas Vogel e por Erol Sarp, que lançou o segundo álbum, Open, em Outubro de 2017, completam o elenco do Respira!. Depois de ter criado a banda sonora para a mini-série The Young Pope (2016), de Paolo Sorrentino, e de ter composto o tema Passengers, para um anúncio da Apple, o compositor transalpino sobe ao palco do Theatro Circo a 19 de Maio, acompanhado por violoncelo e violino, para apresentar um estilo “que procura aproximar o piano da natureza”, enquadrado em referências como Ludovico Einaudi, diz Paulo Brandão.

Mas o concerto de encerramento do ciclo, a 2 de Junho, será aquele que irá mais longe na exploração das possibilidades do piano. “Eles mexem nas teclas, nas cordas do piano, e transformam-no. A partir dali é que fazem o concerto”, esclarece o programador. Os Grandbrothers configuram o piano de forma a criarem um som que funde o jazz e a electrónica, normalmente acompanhado por um jogo de luz.

Baptizado em homenagem ao pianista Glenn Gould, um especialista em Bach que habitualmente ofegava e cantava ao piano, o Respira! espera, nesta edição, igualar a média de 600 espectadores por concerto que atingiu no ano passado. Certa é a realização da terceira edição, em 2019.

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