Mueller já formulou a bateria de perguntas que quer fazer a Trump

O tom das questões indica que procurador especial trata o Presidente dos EUA mais como suspeito do que como testemunha. Trump diz que o crime é "inventado" e a divulgação das perguntas "uma lástima".

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O procurador especial Robert Mueller Yuri Gripas/Reuters

O procurador especial que investiga a suspeita de interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, Robert Mueller, tem preparadas as perguntas que quer fazer a Donald Trump — são mais de 40 e, segundo o jornal The New York Times, que as revela na sua edição desta terça-feira, Trump é tratado mais como suspeito do que como testemunha.

Mueller quer saber quais eram os vínculos de Trump à Rússia quando era empresário da construção civil, quer fazer perguntas sobre a sua intenção de se reunir com Vladimir Putin e saber se o Presidente ou a equipa de que se rodeou durante a campanha eleitoral tinham conhecimento dos ataques lançados a partir da Rússia à sua adversária, Hillary Clinton. Diz o New York Times que nas perguntas de Mueller consta também a vontade do seu genro e agora conselheiro principal, Jared Kushner, de abrir um canal extra-oficial com Moscovo e os contactos de Trump com Putin durante o concurso Miss Universo que se realizou em Moscovo em 2013.

“Que motivo o levou a dizer a diplomatas russos que o despedimento de Comey [de director do FBI] lhe tinha tirado um peso de cima?”, é outra das 18 perguntas sobre o despedimento de James Comey. Mais algumas: “Quando tomou a decisão e porquê? Quem a influenciou?”.

Também há perguntas sobre a destituição do conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, que admitiu contactos com os russos, e sobre os contactos e negócios do Attorney General (equivalente a ministro da Justiça), Jeff Sessions com Moscovo. 

Donald Trump  já reagiu à divulgação das perguntas no jornal nova-iorquino. “Uma lástima que as perguntas sobre a caça às bruxas da Rússia tenham sido dadas aos media. Não há dúvidas ou conluio. É um crime inventado, um conluio que nunca existiu, uma investigação que começa com a divulgação de informação classificada — que bonito”, escreveu no Twitter.

As perguntas ainda não foram apresentadas a Trump e o Presidente não tem obrigação de responder — até porque ainda não foi considerado alvo da investigação. 

Mas a equipa de Robert Mueller já tinha informado os advogados de Donald Trump de que gostaria ouvir o Presidente e já lhes tinha dito quais os temas sobre os quais faria perguntas. Em Janeiro, Trump chegou a dizer que estava disposto para ser interrogado, e as perguntas, ou os temas, foram enviados para a equipa legal de Trump. Posteriormente, em Fevereiro, um dos advogados, John Dowd, esclareceu que aconselharam o Presidente a não o fazer — o que não agradou a Trump, que afastou Dowd e fez entrar na equipa o antigo presidente da câmara de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, um dos seus primeiros apoiantes.

Se aceitar responder, Trump corre todos os riscos, explica o New York Times. “A maior parte das perguntas dizem respeito a uma possível obstrução à justiça, demonstrando como a investigação à interferência russa cresceu ao ponto de visar a conduta de um Presidente em exercício. Entre as perguntas estão as discussões que Trump terá tido na sua tentativa para despedir Mueller e o que o Presidente sabia sobre as ofertas de um possível perdão a Flynn”.

Se decidir responder às perguntas e for apanhado em contradições ou mentiras, o Congresso pode abrir um processo de destituição contra Donald Trump. Isto num momento em que o Partido Republicano tem uma maioria mínima nas duas câmaras, realizando-se eleições em Novembro.

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