Vitória da Liga na região do Friul ameaça provocar eleições antecipadas em Itália

Cresce a probabilidade de um regresso às urnas no Outono. Seria o “desempate” das eleições de Março, entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas, impondo uma bipolarização entre partidos anti-sistema.

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Salvini (à direita) com Massimiliano Fedriga, eleito presidente da região de Friul-Veneza Júlia EPA

A Liga, de Matteo Salvini, obteve uma clara vitória nas eleições da região italiana Friul-Veneza Júlia (Nordeste), enquanto o Movimento 5 Estrelas (M5S) sofreu uma queda abrupta, perdendo metade dos seus eleitores nas legislativas de 4 de Março e ficando em quarto lugar. Salvini confirmou o comando da aliança do centro-direita, com três vezes mais votos que a Força Itália (FI), de Berlusconi. O Partido Democrático (PD) resistiu, permanecendo como segundo partido da região. 

Segundo as primeiras análises, o efeito político desta eleição, regional mas com projecção nacional, é tornar quase inevitável a realização de legislativas antecipadas na segunda metade de Setembro. Falta conhecer a decisão do Presidente Sergio Mattarella quanto à hipótese de um governo “institucional” e a palavra final de Matteo Renzi, ex-líder do PD mas que, de facto, tem um “direito de veto” sobre acordos com o M5S.

No Friul, o candidato do centro-direita, o liguista Massimiliano Fedriga, foi eleito presidente da região com um total 57% dos votos, soma dos vários partidos aliados. O candidato do centro-esquerda, Sergio Bolzonello, apenas somou 27%. O voto para presidente e para os partidos é distinto. Assim, a Liga recolheu quase 35% dos votos, mais dez pontos do que em Março. Em segundo lugar ficou o PD, com 18,4%, seguindo-se a FI, com 12,1, e o M5S com 7,3. A taxa de abstenção foi de 49,5%. 

As eleições regionais são um terrenos menos propício ao M5S do que as nacionais, dada a sua mais débil implantação no terreno. Mas a sua queda teve uma dimensão que ninguém previa e suscita interrogação quanto ao seu futuro, sobretudo no Norte. Alguns comentadores admitem que muitos dos seus eleitores tenham ficado em casa.

Mil incógnitas

Salvini não se pronunciou sobre os próximos passos. Limitou-se a desqualificar a tentativa de negociação entre o PD e o M5S. Por sua vez, Luigi Di Maio, “chefe político” do M5S, propôs a Salvini pedirem ao Presidente Matarella eleições já no fim de Junho. 

A negociação M5S-PD continua envolta confusão. Numa entrevista à RAI, Matteo Renzi, ex-líder do PD mas maioritário na direcção, repetiu que uma coisa é conversar com os grillini outra negociar um governo, ideia a que se continua a opor frontalmente. Cabe aos vencedores governar, insiste. Caso contrário, quer eleições antecipadas. 

A direcção do PD reúne-se a 3 de Maio para decidir se faz ou não acordos, e que tipo de acordos, com o M5S. A entrevista de Renzi provocou a revolta de alguns dirigentes. Maurizio Martina, “regente” provisório do PD, condenou Renzi e declarou que “nestas condições é impossível guiar o partido”. Acrescentou: “Arriscamos a extinção.” O PD está está numa encruzilhada entre más opções: governar com Di Maio ou correr o risco de novas eleições. 

Fala-se em muitos cenários. Salvini e Berlusconi desejavam um governo minoritário do centro-direita. Parece uma hipótese ultrapassada. Ontem, Antonio Tajani, próximo de Berlusconi, propôs um “governo institucional aberto a todos os partidos sem figuras partidárias”. O que Berlusconi mais teme são as eleições antecipadas. 

Falta, no entanto, a palavra decisiva de Mattarella. Como vai jogar no meio do caos partidário? O caos reforça-o ou limita as suas opções?

Se tudo falhar, resta o voto em Setembro. Seria uma campanha de Salvini contra Di Maio. Um voto de “desempate” do 4 de Março, observa o politólogo Roberto D’Alimonte. “Ou eu ou Di Maio”, dirá Salvini. Di Maio gritará o oposto. Esta polarização pode levar “a uma ruptura do país, entre Norte e Sul”. E incentiva a lógica de voto útil, em que se vota no “mal menor”. É uma situação perversa para os outros partidos, na medida em que pode conduzir a uma bipolarização entre as forças “anti-sistema”. Seria uma explosão política inédita na Europa.

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