Parlamento palestiniano reúne-se pela primeira vez em nove anos mergulhado em crises

Organismo que representa palestinianos da Cisjordânia, Faixa de Gaza e diáspora encontra-se pela primeira vez em nove anos. Mas já há quem apele ao boicote.

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Os críticos dizem que Mahmoud Abbas quer manter a sua linha no organismo CARLO ALLEGRI/Reuters

Quem fala pelos palestinianos? Sem eleições desde 2006 (excepto locais) e com uma paralisação política generalizada, a pergunta é de difícil resposta. Um encontro do Conselho Nacional Palestiniano, um dos mais importantes organismos de representação dos palestinianos está a trazer de volta a interrogação – e algumas facções boicotaram-no já por não ser suficientemente representativo.

O Conselho Nacional Palestiniano tem reunião marcada para segunda-feira, em Ramallah, na Cisjordânia. Deveria funcionar como uma espécie de parlamento de todos os palestinianos, não só nos territórios mas também dos que estão na diáspora, mas tem estado paralisado: deveria reunir-se anualmente, mas já não tem um encontro há mais de nove anos (uma sessão extraordinária, a última sessão regular foi há 20 anos, segundo a agência de notícias palestiniana Wafa).

Tem mais de 700 membros e inclui as várias facções, entre elas a Fatah, no poder na Cisjordânia, e o Hamas, que governa a Faixa de Gaza.

E 109 membros, incluindo das facções dominantes, assinaram uma carta pedindo que não fosse já realizado porque devido a restrições, impostas pelas autoridades israelitas, ao movimento de deputados do Hamas (que estão na Faixa de Gaza) e também aos que estão no estrangeiro, argumentando que quaisquer decisões tomadas seriam enfraquecidas por estas ausências. A Frente Popular de Libertação da Palestina anunciou o seu boicote ao encontro.

Tudo isto acontece numa altura em que o acordo de unidade nacional entre a Fatah e o Hamas do ano passado se mantém por aplicar, que ambas as forças sofrem de problemas de legitimidade pela falta de eleições, e que o desafio aumenta com o reconhecimento, pelos EUA, de que Jerusalém é a capital do Estado hebraico sem qualquer menção à reivindicação palestiniana a Jerusalém Oriental.

A situação está ainda especialmente tensa devido às manifestações pelo direito de retorno de palestinianos de Gaza, que se repetem à sexta-feira desde 30 de Março. Nestes protestos já morreram 42 palestinianos (incluindo dois jornalistas), por fogo israelita (Israel teme que os manifestantes tentem passar a barreira e entrar no seu território).

O encontro tem na agenda a discussão de como devem os palestinianos reagir à declaração de Trump sobre Jerusalém. Entre as hipóteses está transformar a Autoridade Palestiniana num governo de facto com a sua própria moeda, por exemplo, ou suspender o reconhecimento do Estado hebraico feito pela Organização de Libertação da Palestina (OLP) de Yasser Arafat em 1994.

O líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, declarou que para os palestinianos os EUA deixaram de ser um mediador neutro. De qualquer modo, já antes disso o processo de paz estava parado, e em Março de 2015 o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ganhou as eleições depois de prometer que se fosse eleito, não haveria "nenhum Estado palestiniano”.

A reunião do Conselho Nacional Palestiniano acontece ainda quando a Fatah enfrenta dúvidas sobre quem sucederá a Mahmoud Abbas, 82 anos, líder desde 2005, que tem vindo a sofrer de vários problemas de saúde, e a segunda figura da facção, Saeb Erekat, está também doente.

Críticos de Abbas dizem que a reunião, em que serão eleitos novos orgãos dirigentes, está a ser marcada agora apenas para que este consiga manter figuras que lhe são leais nestes cargos, assegurando a manutenção da sua linha, nota a estação de televisão Al-Jazira.

A Fatah insiste que a reunião é necessária para que os palestinianos respondam com acção à mudança na posição americana de apoio mais vincado às posições de Israel.

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