Baía dos Porcos: O pano de fundo para uma passagem do testemunho histórica

Díaz-Canel foi confirmado como o novo Presidente numa das datas mais celebradas pelo regime comunista. O triunfo sobre os invasores apoiados pelos EUA, há 57 anos, cimentou a mensagem política de Fidel e deu força redobrada à Revolução Cubana.

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Che Guevara e Fidel Castro em Havana, anos de 1960 Reuters

O dia 19 de Abril de 2018 fica marcado na História como o dia em que deixou de haver um membro da família Castro à frente dos destinos da república comunista e socialista de Cuba. Cumprindo uma promessa de 2011, Raúl Castro – que em 2008 sucedeu ao irmão, Fidel – deixou a presidência da ilha e passou-a a Miguel Díaz-Canel, que se tornou no primeiro Presidente sem qualquer ligação familiar ao clã. 

A escolha da data não foi arbitrária. Por terem surgido numa época de grande confrontação ideológica, em que a sua existência enquanto Estado estava alicerçada a uma lógica de oposição a um modelo político – no caso, o capitalismo –, regimes como o que impera em Cuba desde 1959 têm por tradição celebrar os mais importantes episódios desse conflito entre dois mundos.

Celebrado ano após ano, o dia 19 de Abril corresponde a um desses momentos e por isso foi o escolhido para a passagem de testemunho entre a “geração histórica” e aqueles que, como Díaz-Canel, nasceram depois da Revolução Cubana e do derrube da ditadura de Fulgêncio Batista por um grupo de guerrilheiros, há quase 60 anos.

Foi nesse dia, há 57 anos, que as forças lideradas por Fidel Castro derrotaram um grupo de invasores, apoiado, treinado e financiado pelos Estados Unidos, numa praia da Baía dos Porcos, a cerca de 200 quilómetros da capital, Havana.

Concebida pela CIA e aprovada pelos Presidentes Dwight Eisenhower e John F. Kennedy, a Operação Pluto levou um grupo de 1500 exilados cubanos a desembarcarem na Praia Girón, no dia 17 de Abril de 1961, com um objectivo claramente definido: derrubar o regime comunista cubano e pôr no poder num governo provisório composto por dissidentes residentes em Miami, na Flórida.

A missão revelou-se um fracasso para os invasores, que mesmo apoiados por aviões de combate e embarcações militares norte-americanas, foram escorraçados e derrotados por Fidel e pelos seus guerrilheiros, ao terceiro dia de confrontos. 

O triunfo cubano, a 19 de Abril, deitou por terra o mito da invencibilidade militar dos Estados Unidos e legitimou a liderança de Fidel Castro em Cuba, tendo sido um dos episódios mais marcantes da Guerra Fria e do jogo de tensões entre o bloco socialista-comunista e o bloco capitalista-liberal.

Desde essa altura que a data é celebrada com pelos cubanos, que olham para a “Batalha de Girón” com um momento de emancipação do ideário revolucionário, e que costuma acolher acontecimentos marcantes para o regime comunista. 

Os últimos dois congressos do Partido Comunista de Cuba, em 2011 e 2016, por exemplo, realizaram-se igualmente a 19 de Abril. Nesses dois encontros do partido único cubano foram lançadas as primeiras pedras de um caminho de transição política que honesta quinta-feira conheceu uma significativa etapa, com a chegada de Miguel Díaz-Canel à presidência do país. 

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