Cidadãos ameaça derrubar governo autonómico de Madrid

Dúvidas sobre a legalidade do mestrado da presidente da Comunidade de Madrid leva Rivera a exigir ao PP o seu afastamento imediato, sob pena de se juntar ao PSOE na moção de censura ao governo autonómico.

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Albert Rivera, líder do Cidadãos SUSANA VERA / Reuters

Para o Cidadãos não há volta a dar: Mariano Rajoy deve afastar Cristina Cifuentes do cargo de presidente do governo da Comunidade de Madrid e arranjar um substituto interino. Caso não o faça, o partido de direita que sustenta tanto o governo autonómico madrileno como o executivo do Partido Popular (PP) a nível nacional promete juntar-se à moção de censura apresentada pelo Partido Socialista (PSOE) e, através dela, derrubar Cifuentes, suspeita de ter obtido um título académico fraudulento.

“Rajoy pode resolver isto rapidamente e esperemos que o faça. Cifuentes tem de se ir embora e tem de se colocar uma pessoa do seu partido [no seu lugar]. É deles [Rajoy e o PP] a responsabilidade de se ter Madrid governada pela lista mais votada ou pela segunda lista mais votada [a do PSOE]”, decretou Albert Rivera no parlamento, citado pelo El Mundo, após uma reunião com o seu grupo parlamentar realizada esta terça-feira.

Cristina Cifuentes está debaixo de fogo desde o final de Março, depois de o Eldiario.es ter noticiado que o mestrado em Direito Público do Estado Autonómico, outorgado pela Universidade Rei Juan Carlos, em 2014, foi obtido de forma fraudulenta. Aquele jornal online escreveu que a líder do governo autonómico de Madrid e militante do PP se matriculou três meses depois de as aulas terem começado e o El Confidencial sugeriu, mais tarde, que duas das três assinaturas do trabalho final de mestrado são falsas. 

Foi aberta uma investigação interna na faculdade e no início do mês o caso chegou à justiça. Pelo meio houve protestos estudantis massivos, professores a negarem ter dados aulas a Cifuentes e exigências de demissão por parte de todos os partidos, com excepção do PP e do Cidadãos. A própria líder foi mesmo obrigada a comparecer numa sessão plenária extraordinária para se defender das acusações.

O Cidadãos tentou convocar uma comissão parlamentar para a analisar o caso, mas contou com a oposição dos populares. Daí à mudança de postura do partido nascido na Catalunha foram poucos dias. Na segunda-feira, Ignacio Aguado, líder do Cidadãos na Comunidade de Madrid, reivindicou a demissão de Cifuentes e terça-feira foi o próprio Rivera a ameaçar Rajoy com o apoio à moção do PSOE.

“Não se pode continuar nem mais um minuto com uma presidente que se escusou a dar explicações e que dificultou a investigação”, defendeu Rivera. “Colocamos a questão de uma maneira fácil para Rajoy: está nas suas mãos. Se nomear uma pessoa interina nos próximos dias, haverá estabilidade em Madrid”, insistiu o líder do Cidadãos, que durante a sua intervenção não se escusou dar umas alfinetadas ao PP pelo envolvimento de diversos membros do partido em escândalos de corrupção.

O episódio desta terça-feira constitui a mais recente confrontação declarada do Cidadãos ao PP, desde que, em Janeiro, a plataforma política de direita assumiu internamente o seu novo estatuto de principal partido opositor.

A resposta de Rajoy à crise catalã e a subida em flecha do Cidadãos nas sondagens, a nível nacional, levou o partido de Rivera e de Inés Arrimadas a colocar em causa os alicerces do acordo bipartidário que permitiu a investidura do Governo minoritário do PP, em 2016, e a intensificar a sua pressão sobre o presidente do executivo.

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