Trump promete resposta rápida a ataque químico em Douma

Presidente norte-americano garantiu que todas as opções estão em cima da mesa na anunciada retaliação ao ataque químico de Douma, que é atribuído ao regime de Bashar al-Assad.

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Reuters/KEVIN LAMARQUE

O ataque químico na cidade síria de Douma, que tem sido atribuído ao regime de Bashar al-Assad, originou uma condenação geral e promessas de retaliação. O bombardeamento de sábado pode levar a uma alteração da estratégia dos Estados Unidos quanto ao conflito da Síria, depois de Donald Trump ter afirmado que iria retirar as tropas no terreno.

Nesta segunda-feira, o Presidente norte-americano garantiu que todas as opções estão em aberto na resposta ao ataque químico e disse que em breve (nas próximas 24 ou 48 horas, especificou) será tomada uma decisão, que pode materializar-se em acções militares.

O regime sírio de Bashar al-Assad é novamente suspeito de ter lançado um ataque químico contra civis, desta vez na cidade de Douma, no enclave de Ghouta, que era um reduto da oposição mas está praticamente nas mãos das forças de Damasco - os combatentes do Jabal al-Zawiya, que ainda ali se encontravam, abandonaram a cidade após o ataque. Tanto Damasco como Moscovo, que é, juntamente com o Irão, o principal aliado de Assad, negaram as acusações afirmando que as imagens que chegaram de Douma foram “fabricadas”.

No dia seguinte ao duplo ataque, no domingo, começaram a surgir suspeitas, provenientes das várias organizações não-governamentais no terreno, de que foram utilizados dois gases nos bombardeamentos: sarin e cloro. Há quem diga que a utilização destes dois componentes serviu para um mascarar o uso do outro.

“Tudo aponta para que, durante o segundo ataque, o cloro tenha sido usado para esconder a utilização de sarin”, disse à Reuters Rapharl Pitti, da União de Cuidados Médicos e Alívio, uma das organizações que prestam apoio clínico aos afectados pela guerra síria.

A Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) anunciou que abriu uma investigação para confirmar a utilização de armas químicas e também para verificar a veracidade destas suspeitas.

Em visita à Dinamarca, a primeira-ministra britânica, Theresa May, condenou o ataque “bárbaro”. “Se se descobrir que são culpados, o regime [sírio] e os seus apoiantes, incluindo a Rússia, têm de ser responsabilizados”.

França também pediu responsabilidades e, em comunicado, o Palácio do Eliseu revelou que o Presidente francês, Emmanuel Macron, falou ao telefone com Donald Trump. A Casa Branca referiu que ambos concordaram que o “regime de Assad tem de ser responsabilizado pelos seus contínuos abusos dos direitos humanos” e foi feito um apelo a uma “resposta conjunta forte”.

Depois de vários tweets durante o dia de domingo, onde classificou Assad de “animal” e garantiu que os responsáveis pelo ataque irão pagar “um preço muito alto”, Trump falou nesta segunda-feira aos jornalistas, depois de uma reunião do seu gabinete, para garantir que vai "tomar uma decisão muito rapidamente". "Não podemos permitir atrocidades com esta”, disse o Presidente dos EUA.

Considerando o ataque que matou pelo menos 70 pessoas de “hediondo”, Trump disse estar em contacto com as suas lideranças militares para perceber quem é o principal responsável: “Se é a Rússia, a Síria, o Irão, ou se todos eles em conjunto. Vamos perceber e teremos respostas muito em breve”, afirmou, garantindo que todas as opções estão em cima da mesa, incluindo acções militares.

Nesta segunda-feira, o Conselho de Segurança da ONU recebeu dois pedidos de reunião urgente, um da Rússia, que tem aplicado o seu poder de veto para proteger Damasco em situações semelhantes, e outro por parte dos EUA. Apesar disso, Washington pediu a criação de um inquérito independente para investigar o bombardeamento em Douma.

Mas Zeid Ra’ad al-Hussein, Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, acusou os membros do Conselho de Segurança de oferecerem apenas “condenações ocas” e denunciou que têm faltado respostas mais fortes aos ataques químicos lançados na Síria. “Vários Estados muito poderosos estão directamente envolvidos no conflito na Síria, e mesmo assim falharam completamente em impedir esta regressão sinistra em direcção à utilização de armas químicas”, afirmou num comunicado citado pela Reuters.

Que estratégia?

Praticamente uma semana depois de garantir que os cerca de dois mil militares norte-americanos que estão ainda na Síria iriam regressar a casa em breve, a reacção de Trump ao ataque químico de Douma pode indicar uma alteração da estratégia de Washington para o conflito.

Alguns, como John McCain, senador republicano e um dos maiores críticos de Trump, dizem que as afirmações do Presidente sobre a retirada das tropas motivou Assad a avançar com a utilização de armas químicas.

No ano passado, os EUA lançaram 59 mísseis contra uma base aérea síria em resposta a um ataque com gás sarin também atribuído a Assad. Agora, mesmo depois da vontade expressa de retirar as tropas da Síria, a possibilidade de um ataque semelhante aumenta.

Mas, por outro lado, o ataque químico de sábado, a confirmar-se a responsabilidade de Damasco, mostra também que o lançamento dos mísseis no ano passado não impediu Assad de voltar a usar armas químicas contra a população síria.

Os 2000 militares norte-americanos ainda em território sírio estão localizados na região Este do país, onde os militantes do Daesh ainda controlam algum território, se bem que praticamente insignificante. A sua missão actual é combater os jihadistas e estabilizar as zonas anteriormente ocupadas para evitar o seu regresso. O regime de Damasco não está incluído nesta estratégia.

O analista Thanassis Cambanis escreve na revista The Atlantic que toda esta “política confusa de Trump na Síria” faz com que Assad e os seus aliados “não tenham a certeza do que os EUA estão a planear”. No entanto, o novo ataque químico sugere que Damasco e os seus parceiros estão “razoavelmente confiantes de que os EUA não vão avançar com uma acção séria”.

O bombardeamento com armas químicas sobre Douma pode representar um momento decisivo para o esclarecimento do futuro da estratégia de Washington na Síria. São várias as questões que se colocam agora: irá Trump ordenar uma acção militar contra o regime sírio? Vai retirar as tropas na Síria? Vai, pelo contrário, reforçar o contingente? Ou vai alargar a estratégia não só no combate ao Daesh mas também a Assad?

Para a definição desta estratégia, John Bolton, conhecido “falcão da guerra” que teve esta segunda-feira o seu primeiro dia oficial como conselheiro de Segurança Nacional de Trump, poderá ter um papel fundamental.

 

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