Ordem dos Psicólogos lamenta falta de resposta na saúde mental em Portugal

Bastonário, Francisco Miranda Rodrigues, acusa Ministério das Finanças de não ter autorizado a prometida contratação de quase 100 psicólogos em 2017 e 2018.

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Bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Almeida Rodrigues Rui Gaudêncio

O Bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, lamentou este sábado a falta de aposta na sinalização precoce na área da saúde mental em Portugal e a falta de investimento na saúde primária.

"Há preocupação, mas não vejo que haja respostas a serem avançadas. Existe pouca aposta na sinalização precoce, em qualquer uma das situações [das várias doenças mentais]. Existem muito poucos recursos na área da saúde mental particularmente de psicólogos e psicólogas", disse Francisco Miranda Rodrigues em declarações à agência Lusa.

Tal como o PÚBLICO noticiou, a incidência da depressão em Portugal "não era tão alta havia sete anos" e, segundo dados do relatório Retrato da Saúde, o número de portugueses (entre os inscritos nos centros de saúde) com depressões passou de 6,85% para os 9,8%, entre 2011 e 2017.

A incidência das perturbações de ansiedade quase duplicou (dos 3,51% para os 6,51%), enquanto a demência já atinge quase 1% da população.

"De relatório em relatório que vai sendo elaborado, por diferentes organismos, vamos vendo continuamente o agravar dos casos de depressão em Portugal, mas também de perturbações de ansiedade, e agora ainda acrescentamos outra dimensão que tem sido menos referida relativa às demências em que crescentemente vemos o agravamento do quadro existente em Portugal", lamentou o bastonário.

"Os cuidados saúde primária é onde faltam mais recursos para fazer um trabalho de sinalização precoce, de prevenção e também de acompanhamento das situações. Não sei que mais tempo será necessário para mobilizar recursos para isto", frisou Francisco Miranda Rodrigues. De acordo com o bastonário, assiste-se "recorrentemente às desculpas financeiras" para que o problema não seja resolvido.

"Não sei se há uma incapacidade e insensibilidade total de quem decide os números em perceber qual o impacto que isto tem na população portuguesa. É completamente incompreensível para mim. Isto custa muitíssimo mais a Portugal do que se estivéssemos a apostar na prevenção e sinalização precoce destas situações", acrescentou.

Francisco Miranda Rodrigues fez ainda a analogia ao que aconteceu com os incêndios que deflagraram em Portugal no ano passado, questionando se o Estado estará a esperar por situações "mais graves" para resolver a questão.

"Pergunto-me se temos nesta matéria de esperar por situações mais graves, e quais, para haver uma verdadeira resposta e mobilização de recursos para fazer face a este problema, coisa que ate agora não acontece", questionou.

O bastonário reiterou a acusação ao Ministério das Finanças pela ausência de concursos para os prometidos profissionais a contratar para a Saúde nos dois últimos anos, lembrando que havia o compromisso de contratar 55 psicólogos em 2017 e que este ano deviam ser contratados mais 40.

Francisco Miranda Rodrigues lamentou que não tenha sido aberto qualquer concurso para os quase cem psicólogos prometidos para 2017 e para este ano para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). E "não abriram concursos porque não houve autorização do Ministério das Finanças", afirmou o bastonário.

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