Castro Mendes garante que não vai deixar cair companhias relevantes

Pressionado por um coro de protestos contra o resultados dos concursos de apoio às artes, ministro adiou para terça-feira explicações mais detalhadas, mas foi antecipando na RTP1 que o teatro irá ter um reforço de 900 mil euros.

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Miguel Manso

O teatro irá receber a principal fatia do reforço de dois milhões de euros atribuído ao apoio às artes em 2018. O ministro da Cultura anunciou esta segunda-feira à noite no telejornal da RTP1 que o sector do teatro receberá 45 por cento (900 mil euros), cabendo 23 por cento aos cruzamentos disciplinares, outro tanto à música e ainda nove por cento às artes visuais. Luís Filipe Castro Mendes garantiu ainda que o Ministério da Cultura (MC) "não deixará cair estruturas que, quer pela sua história, pelo seu passado, quer pela actividade que têm hoje e pela renovação que têm sabido fazer, merecem apoio”.

O ministro respondia assim à contestação com que tem sido recebidos os resultados dos concursos da Direcção-Geral das Artes (DGArtes), em particular no sector do teatro, ao mesmo tempo que o seu gabinete adiava para o dia seguinte um comunicado no qual deverá esclarecer mais detalhadamente em que moldes irão ser distribuídos os referidos dois milhões de euros. 

Castro Mendes afirmou mesmo que o MC e a Secretaria de Estado da Cultura estavam “abertos a repensar o modelo” e, num recado para o Porto, onde Rui Moreira se reúne esta terça-feira de manhã com os agentes culturais da cidade num clima de assumida contestação aos resultados dos concursos, realçou a relevância do Porto e assegurou que “nada é mais importante do que a regionalização”.

Multiplicam-se entretanto os protestos contra os resultados provisórios dos concursos, em particular no domínio do teatro. O PCP quer que o ministro volte a ser ouvido, com carácter de urgência, na comissão de Cultura do Parlamento, Rui Moreira diz que as companhias do Porto foram “amplamente prejudicadas”, a sua congénere de Setúbal, Maria das Dores Meira, já expressou publicamente a sua “total indignação” pela exclusão das companhias teatrais da autarquia da lista de estruturas a apoiar, e a Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas pede uma revisão, a ser levada a cabo por entidade independente, dos dados estatísticos que sustentaram a distribuição dos apoios da Direcção-Geral das Artes (DGArtes) por região geográfica e área disciplinar.

Num comunicado conjunto com o CENA-STE, Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos, a Rede – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, e os promotores do Manifesto em Defesa da Cultura, a Plateia anunciou já também acções de protesto contra os resultados dos concursos de apoio às artes, marcados para sexta-feira, em Lisboa, Porto, Coimbra e Funchal.

Se o reforço de 1,5 milhões de euros anunciado por António Costa no dia 20 de Março, ao qual a DGArtes veio depois somar mais meio milhão do seu próprio orçamento, já se terá ficado a dever ao crescendo de protestos não apenas contra o resultado dos concursos, mas visando também o novo modelo que a Secretaria de Estado da Cultura concebeu durante o “ano zero” que reclamou para esse efeito, estes dois milhões suplementares não parecem estar a ser suficientes para atenuar a contestação.

Um dos principais motivos de crítica é o facto de os financiamentos aprovados excluírem companhias teatrais e outras estruturas com um historial reconhecidamente significativo, como o Teatro Experimental de Cascais, as duas companhias profissionais sediadas em Coimbra – o Teatrão e a Escola da Noite –, o CENDREV (Centro Dramático de Évora), o Teatro Experimental do Porto, que já divulgou um comunicado a anunciar que irá recorrer da decisão, ou ainda festivais como o FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica) ou o Festival Internacional de Marionetas do Porto. E na lista de candidatas excluídas incluem-se ainda algumas companhias cuja qualidade tem sido bastante consensualmente reconhecida como a Cão Solteiro, a Primeiros Sintomas ou a Casa Conveniente, de Mónica Calle, todas elas sediadas em Lisboa.

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