"Nunca encontrei um traço que coloque em causa a confiabilidade e a honradez de Orlando Figueira"

Carlos Alexandre diz que Orlando Figueira nunca lhe mencionou o ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente nas muitas confidências que lhe fez.

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Carlos Alexandre é ouvido como testemunha em tribunal e confirma, de alguma forma, os alibis apresentados por Orlando Figueira neste processo nuno ferreira santos

O superjuiz Carlos Alexandre confirmou esta terça-feira em tribunal que o procurador Orlando Figueira, arguido da Operação Fizz com quem manteve relações de amizade durante mais de duas décadas e meia, lhe falou várias vezes dos encontros que manteve quer com o banqueiro angolano Carlos Silva quer com o advogado Daniel Proença de Carvalho, que representou o primeiro em Portugal. Mas que nunca lhe mencionou, nas muitas confidências que lhe fez, o nome de Manuel Vicente, vice-presidente de Angola entre 2012 e 2016. 

"Nunca encontrei um traço que coloque em causa a confiabilidade e a honradez de Orlando Figueira", declarou também Carlos Alexandre, segundo o qual o procurador estava genuinamente convencido de que os angolanos o queriam contratar por causa da sua competência, e não por outra razão qualquer – como as influências que pudesse mover no Ministério Público. Segundo a acusação, o emprego que os angolanos lhe ofereceram era fictício, servindo apenas para justificar o pagamento de luvas que lhe iam fazer em troca de ele ter arquivado, quando ainda estava no DCIAP, um processo em que Manuel Vicente era suspeito.

Ouvido como testemunha em tribunal, Carlos Alexandre confirma assim, de alguma forma, os alibis apresentados por Orlando Figueira neste processo – muito embora tenha ressalvado que tudo o que sabe do assunto lhe foi contado pelo procurador seu amigo. Porém, afirmou também que continua ainda hoje convencido de que a oferta de emprego que Orlando Figueira diz ter tido por parte de Carlos Silva, para trabalhar para as suas empresas, nada tinha a ver com os processos relacionados com Angola que o magistrado tinha em mãos quando trabalhava para o Departamento Central de Investigação e Acção Penal, ao contrário do que diz a acusação do Ministério Público.

Carlos Alexandre fez questão de se referir sempre ao banqueiro pelo nome completo, Carlos José da Silva: “Tenho muitos Carlos Silvas na vida.” Uma afirmação que não pode deixar de ser entendida como uma alusão ao empresário amigo do ex-primeiro-ministro José Sócrates, também ele arguido na Operação Marquês.

“Se isto das contrapartidas [corrupção] se vier a provar, Orlando Figueira não é a pessoa que conheço há 27 anos. E se não o fosse acho que eu saberia – e seria pessoa para o dizer”, sublinhou também Carlos Alexandre, que continuou a ser interrogado em tribunal na qualidade de testemunha esta terça-feira à tarde.

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