Grupo de alunos duvida que Passos possa ensinar quem tem um grau académico superior ao seu

Abaixo-assinado aponta dúvidas relativamente à competência académica do ex-primeiro-ministro e protesta contra "salário obsceno do novo docente", equiparado ao de professor catedrático.

Foto
Grupo de alunos do ISCSP protesta contra contratação do ex-primeiro-ministro Nuno Ferreira Santos

Um grupo de alunos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) pôs em circulação um abaixo-assinado que se opõe à contratação de Pedro Passos Coelho pela instituição “na qualidade de professor convidado catedrático”. Segundo o documento, a que o PÚBLICO teve acesso, o vínculo entre o ex-primeiro-ministro e o ISCSP “representa a materialização de uma afronta à transparência e à meritocracia da instituição", na opinião dos alunos responsáveis pelo documento.

No texto — que faz questão de reconhecer a “vasta experiência prática” de Passos Coelho, em particular “na componente de Administração Pública”— os alunos sentem que Passos Coelho não tem as qualificações necessárias para assumir o cargo para o qual foi convidado: “A sua capacidade para leccionar aulas a discentes com um grau académico superior ao seu é altamente questionável”, aponta o texto, referindo-se ao facto de o ex-primeiro-ministro leccionar alunos de mestrado e doutoramento do curso de Administração Pública. "Nunca leccionou, nunca preparou uma tese na sua vida, nunca trabalhou em investigação e nunca teve um percurso académico minimamente relevante seja capaz de preparar alunos de mestrado e doutoramento", referem os estudantes, justificando desta forma a sua descrença nas capacidades de Passos Coelho.

Para além de apontarem ao ex-primeiro-ministro lacunas ao nível da sua formação académica, o abaixo-assinado refere também que, com a contratação de Passos Coelho, o corpo docente é “altamente lesado naquilo que é a sua integridade, honra, deontologia e igualdade de oportunidades”. O salário de Passos Coelho — que será remunerado ao nível de professor catedrático, em função da carga horária — está também debaixo de fogo: “o salário obsceno do novo docente (tendo em conta a sua formação académica) é uma ofensa grave à meritocracia inerente ao percurso académico normal de um docente universitário”, apontam os autores.

Os autores do abaixo-assinado pretendem afastar qualquer suspeição de motivação política, sublinhando no texto que o documento “não tem um teor político” e afirmando que, para além dos alunos do ISCSP, o caso tem sido interpretado pela generalidade da sociedade portuguesa.

Fonte ligada ao corpo estudantil da instituição disse ao PÚBLICO que “o abaixo-assinado proveio de um grupo de alunos que se revoltou com a situação”. O objectivo deste acto é, segundo o aluno, perceber a posição do corpo estudantil em relação à questão e motivar o debate no seio do ISCSP em torno da contratação de Passos Coelho. “Este abaixo-assinado não é nada contra Pedro Passos Coelho”, refere a mesma fonte, garantido a pluralidade de cores políticas envolvidas na concretização do documento. Pretende-se que o abaixo-assinado seja debatido e votado em Assembleia Geral de Alunos ainda durante o mês de Março, para que seja tomada uma “posição vinculativa” em relação ao que consta no texto.

Passos Coelho será, como foi noticiado pelo Jornal de Negócios no início do mês, docente em três universidades portuguesas — públicas e privadas. As áreas em que o antigo presidente do PSD irá leccionar são Administração Pública e Economia. No ISCSP, em particular, leccionará os alunos de mestrado e doutoramento de Administração Pública, sendo remunerado em função da carga horária como professor catedrático — que representa o topo de carreira de docente. O instituto é actualmente presidido pelo ex-deputado eleito nas listas do PSD Manuel Meirinho Martins.

Texto editado por Hugo Torres

Sugerir correcção
Ler 322 comentários