Hipótese de Governo liderado por Salvini semeia medo entre imigrantes

Um vendedor de rua senegalês foi morto à queima-roupa em Florença esta semana. Comunidades imigrantes acusam líder da Liga de promover ódio contra as minorias.

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Manifestação em Florença contra o racismo EPA/CLAUDIO GIOVANNINI

A perspectiva de Itália poder vir a ser governada por um partido com um programa fortemente anti-imigração está a espalhar o receio da deportação junto das comunidades estrangeiras no país. Mas mais do que expulsões, o impacto mais imediato pode ser o aprofundamento da violência de rua contra as minorias étnicas.

Na segunda-feira, um homem matou à queima-roupa um vendedor de rua senegalês em Florença. As autoridades policiais disseram que o homicida, Roberto Pirrone, não foi motivado por questões raciais, uma vez que apresentava “tendências suicidas” e aparentava um estado de confusão, segundo a Reuters.

Mas, desde então, centenas de pessoas têm saído à rua em Florença contra o racismo e contra a promoção de hostilidade contra os imigrantes feita por partidos como a Liga – a formação de extrema-direita que foi a terceira mais votada nas eleições legislativas de domingo. Na terça-feira, cerca de 500 pessoas marcharam sobre a ponte onde ocorreu o homicídio de Idy Dienec enquanto lançavam palavras de ordem contra Matteo Salvini, o líder da Liga e potencial primeiro-ministro.

Em Fevereiro, um ex-candidato local da Liga disparou indiscriminadamente sobre todos os negros que encontrou na rua, ferindo seis pessoas. Quando foi detido pela polícia, o homem estava envolvido numa bandeira italiana enquanto fazia uma saudação fascista.

A imigração foi um dos temas centrais da campanha eleitoral, num país que está na linha da frente da crise europeia de gestão dos milhões de requerentes de asilo que nos últimos anos tentaram atravessar o Mar Mediterrâneo para chegar à Europa. Desde 2013 que chegaram a Itália mais de 600 mil pessoas, quase sempre em embarcações frágeis a partir da costa líbia. A recusa de vários países da União Europeia em receber refugiados obrigou a Itália, assim como a Grécia e outros países nas fronteiras externas do espaço comunitário, a lidar com uma pressão migratória com poucos precedentes nas últimas décadas.

O desfecho das eleições de domingo – em que nenhum partido conseguiu a maioria – pode catapultar Salvini para a liderança do próximo Governo, com o apoio do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Na mente de muitos imigrantes em Itália está, por estes dias, a promessa de Salvini de expulsar “600 mil imigrantes ilegais”.

“Acompanhei a campanha eleitoral italiana com muita atenção, e quase todos os partidos, especialmente os da direita como a Liga, culpam-nos pelos problemas económicos e ameaçam deportar-nos”, diz ao Guardian Zak, um imigrante de 17 anos que veio da Gâmbia.

O arrastamento das negociações para a formação do Governo, e até a falta de recursos para que as expulsões possam ser processadas, sugerem que Itália não irá começar a deportar imigrantes em massa a curto prazo. Porém, o medo junto de algumas das comunidades mais frágeis da sociedade italiana já ganhou raízes. “O medo provocado pela propaganda da direita italiana entre os migrantes, especialmente os menores, é imperdoável”, diz ao Guardian a voluntária Agata Ronsivalle.

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