Bruxelas procura resolver o problema do Sud Expresso na fronteira hispano-francesa

Comboio português pode terminar marcha em Hendaya, mas depois não pode partir da mesma estação com passageiros. Está em causa um desentendimento entre Espanha e França.

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À noite, o comboio não pode andar 1500 metros até Hendaya FÁBIO TEIXEIRA

“A comissão está em contacto com as autoridades franceses e espanholas a fim de encontrar uma solução para o problema do Sud Expresso”, disse ao PÚBLICO uma fonte oficial da Comissão Europeia, questionada sobre os motivos que impedem o comboio português de partir da estação de Hendaya, recebendo a ligação do TGV.

A mesma fonte diz que “nada impede que um operador público ou privado, em França, em Espanha ou em Portugal retome a operação” a partir de Hendaya, justificando assim a sua intervenção junto dos operadores. E acrescenta: “em política de transportes a missão da Comissão Europeia consiste precisamente em superar os obstáculos técnicos e promover assim as ligações entre os cidadãos europeus.”

Ora, é precisamente um obstáculo técnico-burocrático que está em causa: ninguém dá autorização para que o mesmo comboio que de manhã termina a sua marcha em Hendaya, possa partir da mesma estação ao fim da tarde.

O mesmo responsável diz que aquela fronteira está integrada “no corredor transeuropeu atlântico que visa precisamente reforçar a interligação entre Portugal, Espanha, França e a Alemanha”.

Mas as intenções da comissão deparam-se com a atitude oposta dos operadores.

Desmanteladas as leis que confundiam as companhias de caminhos-de-ferro com os próprios estados, e criadas leis que fomentam a concorrência sobre carris no espaço europeu, só os obstáculos técnicos servem agora para impedir a liberalização do transporte ferroviário.

É o que está a acontecer entre França e Espanha. O desentendimento entre a operadora francesa SNCF e a Renfe está a prejudicar o comboio português Sud Expresso.

A história é simples: até Junho do ano passado o TGV proveniente de Paris dava ligação ao Sud Expresso para Lisboa na fronteira espanhola de Irun. Mas como a SNCF passou a utilizar um novo TGV (o Duplex, com dois andares), esta composição tem de ser homologada pelas autoridades espanholas para poder prosseguir de Hendaya para Irun (2,7 quilómetros).

Nove meses não foram suficientes para que a homologação se realizasse e durante este tempo o TGV não passa de Hendaya. Como o Sud continua a sair de Irún, os passageiros desembarcados em França têm de atravessar a fronteira pelos seus próprios meios, de táxi, a pé, ou num comboio de via estreita do País Basco que passa ali ao lado.

A liberalização do transporte ferroviário de passageiros está marcada para 2019 e entre os dois países adivinha-se uma forte disputa pelos respectivos mercados. Um possui o célebre TGV (Train a Grand Vitesse) e o outro uma vasta frota de comboios AVE (Alta Velocidad Española). De momento o TGV já entra em Espanha numa ligação directa Paris – Barcelona, mas não há nenhum AVE a entrar em França.

Entretanto, o centenário Sud Expresso chega todos as manhãs a Hendaya onde desembarca os passageiros para o TGV para Paris, mas depois a composição recolhe ao lado espanhol da fronteira e fica parqueada a escassos 1500 metros da estação francesa.

A 1500 metros de distância

À noite, como não tem autorização para percorrer esses 1500 metros até Hendaya a fim de receber os passageiros do TGV, é obrigado a partir de Irún sem assegurar a ligação, naquilo que contraria todos os esforços de Bruxelas para promover a interoperabilidade ferroviária.

Contactada a CP, a empresa diz que está, em conjunto com a Renfe e a SNCF, “a procurar encontrar uma solução”. Já a Renfe respondeu ao PÚBLICO que não tem nenhuma intervenção na gestão do Sud Expresso e que é a CP, enquanto operador responsável pelo comboio, que deve dirigir-se a quem de direito para definir as suas paragens e origem e destino.

A ERA (Agência Ferroviária Europeia), que tem na sua missão promover a interoperabilidade no sector, respondeu ao PÚBLICO que está a acompanhar o assunto e a averiguar as razões pelas quais o Sud Expresso não pode partir de Hendaya.

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