Administrador do BCP diz que indicou Proença de Carvalho a arguido da Operação Fizz

Iglesias Soares nega ter avisado ex-procurador Orlando Figueira de que estava a ser investigado por suspeitas de corrupção.

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José Iglesias Soares (à direita) e Carlos Silva (à esquerda) a entrar para uma assembleia de sócios do BCP Tiago Petinga/Lusa

O administrador do BCP Iglesias Soares declarou esta quarta-feira, em tribunal, ter sido ele a sugerir ao procurador Orlando Figueira, arguido da Operação Fizz, que contactasse o advogado Proença de Carvalho. Fê-lo, ao que relatou, por indicação do banqueiro angolano Carlos Silva.

Iglesias Soares negou, porém, ter sido ele a avisar em 2015 o magistrado de que estava a ser investigado no âmbito da Operação Fizz pelos seus antigos colegas do Departamento de Central de Investigação e Acção Penal, por suspeitas de ter arquivado dois inquéritos que tinha em mãos nos quais o vice-presidente de Angola Manuel Vicente era visado.

Esse arquivamento terá sido feito a troco de dinheiro pago pelo então governante angolano e também a troco de um emprego no BCP, diz a acusação do Ministério Público. É que a Sonangol, à frente da qual Manuel Vicente estava antes de ir para o Governo, era accionista do BCP.

Interrogado sobre a contratação de Orlando Figueira para o banco, depois de o magistrado sair do DCIAP, Iglesias Soares não foi claro sobre a forma como o BCP chegou ao nome e ao currículo do magistrado. Certo é que este começou a colaborar formalmente com o departamento de compliance do banco, ao qual superintendia Iglesias Soares, no final de 2012, a troco de uma avença de 3500 euros mensais brutos. Para o Ministério Público, este contrato servia apenas para justificar o pagamento de luvas ao ex-procurador.

Em tribunal, o administrador do BCP diz que na altura, até 2013, não havia actas das reuniões do comité de prevenção de branqueamento de capitais do banco nas quais Orlando Figueira participaria, razão pela qual se torna mais difícil perceber que posições tomou em que processos. E assegura que só muito tarde, em 2014, o magistrado – que não tinha exclusividade no BCP – lhe contou estar com problemas para receber dinheiro vindo de Angola. Orlando Figueira tinha firmado outro contrato de prestação de serviços com uma empresa do grupo angolano a que pertence o Banco Privado Atlântico, de Carlos Silva.

Iglesias Soares falou com o banqueiro. “E ele disse-me:‘Pá, vou ver o que se passa’. E sugeriu que Orlando Figueira falasse com um advogado, com Proença de Carvalho”, que o representava em Portugal. De acordo com o arguido, o advogado em questão falou consigo várias vezes, para resolver o problema de ele estar a ser pago pelo grupo angolano através de uma offshore e de isso poder configurar fuga ao fisco. E também para fazer a rescisão do seu contrato com a firma do universo Banco Privado Atlântico.

Proença de Carvalho, que irá ser intimado para prestar depoimento em tribunal no âmbito da Operação Fizz e já viu a Ordem dos Advogados autorizá-lo a revelar factos cobertos pelo segredo profissional, tem declarado ser falso que Orlando Figueira alguma vez tenha colaborado com ele ou com o seu escritório.

Na versão que apresentou dos factos, o ex-procurador diz ainda ter sido Iglesias Soares quem o avisou, em 2015, de que estava a ser investigado no âmbito da Operação Fizz. O administrador admite ter sido informado desse facto, mas desmente de forma categórica ter passado a informação confidencial a Orlando Figueira : “É falso!”

 

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