Governo britânico pede à UE um período de transição mais longo

Grupo de deputados conservadores partidários do "hard Brexit" publica carta exigindo a Theresa May saída rápida e sem condições da União Europeia.

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Theresa May está sob intensa pressão no seu partido Christopher Furlong/REUTERS

A primeira-ministra britânica, Theresa May, quer pedir um período de transição mais alargado após o “Brexit” do que o já acordado com a Comissão Europeia, noticia a Bloomberg. Em vez de terminar a 31 de Dezembro de 2020, esse período deve durar tanto quando for necessário, diz um documento com o timbre do Governo de Londres.

É mais lenha para a fogueira já bem viva das relações tensas entre May e os eurocépticos do Partido Conservador, que duvidam do entusiasmo e da capacidade da primeira-ministra em liderar as negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia. Esta quarta-feira, mais de 60 deputados tories assinam uma carta dirigida a May publicada no jornal The Times, exigindo-lhe uma saída rápida e sem condições da UE, aumentando a pressão para que siga pelo caminho do “hard Brexit”.

Os partidários do “hard Brexit” querem sair da UE o mais rapidamente possível – a data prevista é 29 de Março de 2019 às 23h – e que o período de transição se limite ao mínimo.

O documento revelado pela Bloomberg diz que “o período de transição deve ser determinado simplesmente pelo tempo que demorar a preparar e a pôr em prática os novos processos e novos sistemas que vão sustentar a futura parceria” entre o Reino Unido e a UE. “O Reino Unido concorda que isto aponta para um período de cerca de dois anos, mas deseja discutir com a UE a avaliação que tem por base a proposta de data para o seu fim”, diz ainda.

" A UE quer um período de transição de 21 meses, nós queremos de cerca de 24 meses”, disse à Reuters uma fonte do gabinete de Theresa May. O Governo britânico, dividido por causa do “Brexit”, tem apenas oito meses para negociar um acordo de saída com a União Europeia.

O grupo de 62 deputados conservadores que teve a iniciativa de fazer a carta publicada no Times exige uma abordagem mais dura numa série de áreas, incluindo o direito dos britânicos de abandonarem leis e regulamentos europeus logo após a saída, para ficarem livres de negociar novas parcerias comerciais, e também sobre os termos de um acordo de transição.

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— Faisal Islam (@faisalislam) February 20, 2018

“O Governo tem que garantir que pode mudar as leis e os regulamentos mal se saia”, diz a carta cujos signatários incluem o antigo líder do partido, Iain Duncan Smith, e a ex-ministra do Desenvolvimento, Priti Patel. A carta emana de uma organização denominada European Research Group, liderada pelo deputado Jacob Rees-Mogg, que tem sido o principal rosto dos defensores do "hard Brexit".

Estes 62 deputados representam menos de um quinto do grupo parlamentar de 316 elementos dos tories no Parlamento de Londres – mas May precisa do apoio de todos os seus deputados, depois de ter perdido a sua maioria nas eleições antecipadas no ano passado. Por isso tem mantido as suas intenções sobre as negociações bem escondidas, revelando muito pouco – o que também tem causado incómodo, tanto no seu partido, como na União Europeia.

Nicky Morgan, uma conservadora com uma posição menos radical em relação ao “Brexit”, teve palavras duras para esta missiva: “Isto não é uma carta, é uma nota de resgate. Pensam que têm a primeira-ministra como refém”.

Estes desenvolvimentos surgem antes da reunião de quinta-feira de May com com os seus principais ministros na residência de campo dos primeiros-ministros britânicos, Chequers, para tentar alcançar um acordo entre as facções pró e anti “Brexit”. 

A seguir, a primeira-ministra tem previsto fazer um discurso, antes das negociações formais com Bruxelas serem retomadas, em Março. May e alguns ministros já começaram a fazer uma série de discursos, a que chamaram "Rota para o Brexit", com o objectivo de ir clarificando, aos poucos, o que Londres quer, para tudo culminar nesse discurso de May, que contudo não tem data marcada.

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