Milhares de motociclistas protestaram contra inspecções periódicas

Manifestantes foram recebidos no Parlamento pelo deputado comunista, e também motociclista, Miguel Tiago, que lhes garantiu o apoio do PCP

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Motociclistas concentraram-se junto ao Parlamento Lusa
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Desfile de motociclistas no Porto Lusa

Milhares de motociclistas manifestaram-se neste domingo em várias cidades do país em protesto contra a obrigação das motas, tal como acontece com os automóveis, passarem a ser sujeitas a inspecções periódicas obrigatórias. Segundo o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, estas inspecções começarão a ser realizadas já durante o primeiro semestre do ano.

O Governo justifica esta medida com o aumento do número de acidentes mortais com motociclos em 2017. Os dados do MAI dão conta que entre 1 de Janeiro e 30 de Novembro de 2017 registaram-se 7896 acidentes com motociclos e ciclomotores de que resultaram 553 feridos graves e 112 vítimas mortais.  Em 2016, este valor foi de 461 feridos graves e 71 vítimas mortais.

Em Lisboa, os motociclistas concentraram-se junto da Assembleia da República, onde entregaram a representantes dos partidos um manifesto no qual dizem que as vítimas na estrada não podem ser usadas para criar medidas injustificadas.

“As vítimas na estrada não podem ser usadas para justificar a implementação de medidas que nada têm a ver com as causas dos seus acidentes”, diz-se no documento. Os motociclistas consideram “uma farsa” que se exija inspecções periódicas obrigatórias às motas, e dizem que existe uma “manipulação” dos números da sinistralidade em relação às motos, indicou à Lusa António João, do Grupo de Acção Motociclista (GAM), uma associação criada em 1990 que organizou a manifestação deste domingo.

António João admite que houve em 2017 um aumento de vítimas motociclistas, mas acrescenta: “Quando analisamos os dados a mensagem que tem vindo a público é o contrário da realidade, há diminuição de vítimas mortais e feridos graves comparativamente com o número de motos em circulação e os quilómetros percorridos”.

Contesta ainda que a obrigação de inspecções periódicas venha a reduzir a sinistralidade, apontando a propósito “um estudo europeu que diz que apenas 0,3% dos acidentes são causados por falha mecânica”, especialmente falhas nos pneus, directamente relacionadas com as condições da via.

 “Inspecção garante receita, não prevê sinistralidade” podia ler-se em vários dos cartazes empunhados pelos manifestantes, que no Parlamento receberam apoio do deputado do PCP, Miguel Tiago, também ele um motociclista. Este deputado que o grupo parlamentar do PCP não aceitará “que a sinistralidade dos motociclistas seja justificação para tomar medidas que nada têm a ver com a sinistralidade”.

“Não aceitamos que manipulem os dados”, disse o deputado, manifestando-se também contra a reversão da chamada “lei das 125 cc” (que permite a quem tem carta de condução de veículos conduza motos até 125 centímetros cúbicos), porque a lei “não tem qualquer relação com o aumento da sinistralidade”.

Fonte do Ministério da Administração Interna disse entretanto à Lusa que o secretário de Estado da Protecção Civil, José Tavares Neves, vai receber, na terça-feira, a Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) e a Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), após terem pedido uma audiência ao ministro.

 

 

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